Longe vão os tempos em que a universidade vivia das questiones, questões estas que ajudavam a descortinar o mistério da realidade, principalmente o da existência humana. As questões e os debates consistiam na busca de sentido para uma realidade que nos excede, interpela e atrai. Hoje nada resta daquilo que foi a origem da universidade.

Quando, no século XVIII, W. Humboldt faz uma reforma da universidade, na qual a universidade de Berlim em 1809 serviu de modelo, procura inspiração nas universidades medievais. Aquilo que propunha era o facto de as universidades não deixarem nunca de assentar em valores e de serem comunidades intelectuais vivas orientadas para a procura crítica da verdade, mediante o encontro dos saberes e em diálogo entre eles.

Esse debate crítico permitiu à universidade afirmar-se como instituição autónoma, substituindo a autoridade da tradição, tornando-se num espaço de elaboração de uma cultura comum.

Na Europa, a Declaração de Bolonha foi a pedra de toque, na necessidade de repensar a universidade preconizando uma harmonização do ensino superior ao nível europeu. Contudo, a formação superior que temos parece responder mais aos desafios económicos e políticos do que aos culturais. Será que a alternativa da universidade é a redução do ensino e do saber a critérios de eficácia?

O futuro da universidade parece ser concebido tendo como modelo uma performance de competição e de ascensão de investigadores numa seleção internacional. Os saberes úteis são privilegiados, com uma desvalorização das humanidades e das artes. Todos são importantes para uma maior compreensão e desenvolvimento da realidade. Mesmo as universidades privadas, das quais se esperaria uma visão diferente das estatais, mais não fazem do que replicar estas, a única diferença é a de não terem um governo público.

Da universidade/questões passámos à universidade/problemas, onde não se procura entender o mistério da vida, e muito menos investir nas potencialidades de cada um, geradoras de novas possibilidades de sentido. O que se faz é formar seres humanos para a vida profissional, com vista à aquisição de competências necessárias para a resolução de problemas.

A investigação ganhou uma importância desmedida, avaliando-se pelo número de artigos publicados nas revistas de topo. O ensino e a pedagogia  são completamente marginais. Os patrocínios e financiamentos, públicos e privados, os projetos em parceria em redes internacionais são indicadores de excelência e de produtividade. Esta racionalidade instrumental do saber instalou-se, em que a universidade se parece mais com uma organização cognitiva do que com uma instituição cultural.

A massificação do ensino aumentou não correspondendo a uma democratização, mas a uma burocratização muito desigual, sob a ideologia da meritocracia. Que caminho seguir? A cultura é um processo dinâmico e a universidade fará parte dele, cujo desenvolvimento nunca será linear, sendo sempre aquilo que formos capazes de criar.