Nos últimos três anos, Portugal tem vivido uma instabilidade política com mudanças sucessivas de governo. Esta realidade, que infelizmente se está a normalizar, tem um impacto profundo na economia nacional e, em particular, no tecido empresarial. A falta de previsibilidade e os atrasos na aprovação de legislação, que os investimentos empresariais exigem, são um exemplo disso.
No caso do setor dos transportes, ao qual é exigida a transição para frotas mais sustentáveis, a criação de infraestruturas mais eficientes, assim como a captação e retenção de trabalhadores, torna-se difícil o compromisso com investimentos que exigem um horizonte de estabilidade.
Em vez de avançarmos com medidas que efetivamente permitem tornar todo o setor dos transportes mais eficiente e sustentável, ficamos reféns de sucessivos ciclos políticos que atrasam decisões cruciais para reduzir a pegada carbónica e cumprir metas climáticas estabelecidas a nível nacional e europeu.
No Grupo Paulo Duarte definimos como meta reduzir 50% das nossas emissões de CO2 até 2032 e, para isso, reforçamos o nosso investimento na renovação da frota, na modernização de instalações e na integração de sistemas tecnológicos. E fomos mais longe, pelo nosso setor. Estamos a liderar o pedido de legalização do projeto dos duotrailers.
A lei dos duotrailers terá um impacto muito considerável, não apenas em todo o setor do transporte rodoviário, mas também para todas as pessoas, com melhorias significativas em termos ambientais, dada a redução significativa da circulação de camiões nas vias. Estamos a falar de um projeto que em Espanha já está legalizado e em marcha.
Portugal ainda não avançou, não por falta de insistência das empresas, mas por falta de decisões legislativas. Para se ter uma noção clara, estamos a falar da possibilidade de uma redução direta de 50% de camiões a circular na estrada, ou seja, metade das emissões de CO2, assim como uma diminuição do trânsito e da ocorrência de sinistros. Acontece que, apesar dos avanços já alcançados nesta matéria, a sucessiva alteração de governos acaba por paralisar um projeto que nos países vizinhos já é uma realidade.
Para que o setor dos transportes possa cumprir o seu papel na construção de uma economia mais moderna, resiliente e sustentável, é essencial haver um compromisso político, que garanta estabilidade e previsibilidade. Precisamos de decisões estruturais, que possam ser aplicadas hoje e que tenham impacto a curto e médio prazo. O que é que interessa ao país definir metas ambientais se não formos realistas e ágeis no que é efetivamente necessário mudar e implementar para as atingirmos com êxito?
Apesar de ainda muito pouco valorizado, o setor do transporte rodoviário tem um peso grande na economia portuguesa e precisa de uma visão estratégica que ultrapasse mandatos governativos. Enquanto empresário do setor, apelo a uma maior estabilidade política e a compromissos de longo prazo que garantam a continuidade dos projetos essenciais para o futuro da mobilidade e sustentabilidade em Portugal. Com responsabilidade e visão estratégica para o país, espero que sejam valorizados todos os que, todos os dias, mantêm o país a andar.