A ditadura do politicamente correcto e a imposição do pensamento único de esquerda tem já consequências preocupantes em Portugal. A sociedade começa a estar polarizada como não víamos desde a década de 70, e a tensão começa a manifestar-se das mais diversas formas. A política à direita perdeu o seu papel de intervenção social e de interlocutor de ideias e princípios, perdendo o povo que se espraia inconformado por diferentes ilhas de ideias temporárias. Perdeu-se a constância, o lastro, a legitimidade.

Um passeio pelas redes sociais dá-nos uma ideia do que se passa no país que ainda tenta pensar. Sim, é preferível a adesão a uma desordem de ideias do que a apatia e a aceitação acrítica da ditadura em curso. Mas será eficaz? Fará sentido? Haverá equilibrio? Terá o fundamento que se procura?

O número de adeptos de Trump, sempre prontos a propagar as mais alucinadas desculpas para defender o homem que neste momento mais irrita a esquerda, é um sintoma da clara ausência de generais com legitimidade para fazer o contraponto ao totalitarismo ideológico do politicamente correcto. Bolsonaro colecciona adeptos pelo mundo porque é a única cara que abala a corruptocracia e a mentira em que a esquerda mergulhou o Brasil, a Venezuela, a Bolívia. Putin consolida popularidade além fronteiras porque afirma um nacionalismo imperial e organizado em contraste com a erosão do Estado mais alargado na Europa.

Quem quiser, à direita, encontrar um espaço de identificação e um projecto de sociedade, como encontrou no passado em Adenauer, D’Estaing, Thatcher, Reagan, Suarez, não tem hoje onde procurar. A imposição do caderno social e ideológico da esquerda, conjugado com uma crise na emergência de lideranças carismáticas à direita, resultou numa perigosa relativização da democracia. A este propósito, é interessante comparar o que dizia Reagan e o que diz Trump sobre os “muros”, a imigração, a liberdade, a democracia e a universalidade do sonho americano.

O país chocou-se com o já célebre artigo de Maria de Fátima Bonifácio no Público. A autora, provavelmente exausta pela opressão do politicamente correcto, descamba num desfiar de preconceitos, racismo e julgamentos irresponsáveis. Logo, a brigada do politicamento correcto correu a crucificá-la; logo, a brigada dos resistentes apareceu a defender os indefensáveis escritos. O artigo responde com estupidez a outra estupidez. O artigo denuncia esta ausência de força, a quase derrota do bom senso.

Se há uma evidente estupidez e uma disfarçada má-fé na ideia das quotas para as diferentes etinias e raças, há um enorme falhanço quando a sociedade responde com o preconceito e o ódio ao diferente. Maria de Fátima Bonifácio é o rosto de uma direita sem referências, valores ou líderes que resiste por todos os meios, mesmo os mais tóxicos, à asfixia opressiva do politicamente correcto. Ninguém ganha com isto.

Se compreendi as quotas no pós-apartheid, único meio de corrigir clivagens resultantes de décadas de desumanização atroz, única justiça possível, apesar de imperfeita; não posso concordar com esta ideia peregrina e racista em Portugal. A luta em Portugal deverá ser contra todos os tipos de discriminação, deverá ser pela observância e cumprimento da Constituição. Se há algum problema de consciência à esquerda, pela sua prática reiterada, o CDS provou ao longo da sua história que, havendo mérito, há lugar para todos a todos os níveis.

Raça, etnia, sexo, orientação sexual, idade, religião, nunca foram critérios que impedissem pessoas com mérito de assumir os lugares mais destacados com perfeita naturalidade, sem serem precisos anúncios e proclamações, porque sempre se tratou de pessoas, nunca de um circo. A promoção por decreto da diversidade, onde esta não é condicionada, só provoca mais tensão e discriminação. Se o PC ou Bloco nunca tiveram um deputado preto, se o PC ou o PS nunca tiveram um secretário-geral que fosse mulher, poderá haver causas que nós desconheçamos, mas que lhes pesem na consciência; percebemos agora que poderá não ter sido um acaso.

Na tentativa de correcção deste erro histórico, poderiam aprender com quem vive a diversidade humana com a naturalidade que a mesma encerra. Basta olhar o próximo como realmente é, compreender a transcendentalidade da dignidade humana, que nunca depende do aspecto físico ou do lugar onde se nasce, deixar que cada homem se desenvolva livremente com acesso garantido aos seus direitos e, por fim, compreender que a inclusão não se faz de tensão nem discriminando.

Terminando como comecei, a resposta ao mal nunca é um mal diferente. Se a ditadura actual vive do ódio e tensão social, a resposta deverá ser um projecto social conciliador, uma ideia de bem-estar justo e organizado. Se o politicamente correcto nos esmaga, a resposta deve ser uma resistência coerente, bem organizada, que se constitua numa corrente forte de uma grande ideia de liberdade.

Enquanto for Soros contra Trump ou Putin, oscilaremos num pêndulo entre dois males, comprometendo irremediavelmente o futuro. Somos todos capazes de muitíssimo melhor, não temos sequer o direito de não o ser!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.