Estamos a presenciar um inédito, e pouco edificante, debate público entre protagonistas da Igreja Católica. De repente, instalou-se na sociedade a aparência de um cisma entre supostos progressistas e designados conservadores. Esta propalada crise em nada aproveita aos fiéis, em nada engrandece a Igreja, nada acrescenta à Mensagem de Cristo, tudo proporciona aos inimigos tenazes da Fé Cristã.

Francisco é Papa não por acaso, ou por irreflexão electiva. Francisco, apesar de ser Chefe de Estado, apesar de ter um papel inegável no quadro político internacional, é, acima e antes de tudo, o sucessor de Pedro – o escolhido de Cristo; sobre Pedro edificar-se-ia a Sua Igreja. O Papa faz, assim, parte integrante da articulação, da dinâmica, da orientação da fé dos Católicos.

Apesar do endosso divino, cada Papa imprime um cunho pessoal ao seu magistério. Não há rigorosamente nenhuma novidade neste factor de personalidade humana do Papado. Na memória da minha geração estão Paulo VI, João Paulo I, S. João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco. Todos exereceram o seu magistério com vincada personalidade e estilos distintos, sem pôr em causa a essência da sua função, o endosso de Cristo e a inspiração do Espírito Santo.

A maior ou menor proximidade de estilo ao homem que calça as sandálias do Pescador, em nada deve influenciar a perspectiva de cada fiel em relação ao Papa na sua essência. Independentemente da simpatia pessoal com o estilo de Wojtyla, de Ratzinger ou Bergoglio, faz parte da vida do católico o amor pelo Papa. A este propósito, vale muitíssimo a pena ler o mais recente artigo do Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada no Observador.

Partindo destes pressupostos essenciais, facilmente chegamos à conclusão que a polémica em curso não tem razão de existência, é uma inflação perigosa dos diferentes egos em presença. Não há lugar na Igreja para correntes anti-Papa, por menos que simpatizem com Bergoglio. Não há razão para que a dialética entre conservadores e progressistas suscite dúvida em relação ao sucessor de Pedro.

Neste momento, torna-se tão penoso ver a publicidade das dúvidas e inquietações do Cardeal Viagno, como o cortejo público de altos dignitários numa defesa de aparente facção papal. O Papa não pode ser, nem será, líder de facção; é líder da Igreja Católica no mundo.

É tempo de os homens pararem, recolherem para reflexão, procurarem inspiração, e estarem à altura da missão que lhes foi confiada, não por acaso. As crises humanas da Igreja devem resolver-se no seu seio; as que envolvam a lei civil, devem ser resolvidas em observação dessa mesma lei. Quem não estiver em condições de exercer as funções confiadas, deverá abandoná-las por iniciativa própria ou da hierarquia. Tudo isto pode conter justiça, rectidão, rapidez, sem implicar a publicidade e aparato público que só aproveitam a quem vive empenhado na divisão e destruição da Igreja.

O mundo actual tornou-se um campo fértil para o domínio do relativismo ético. Há um combate feroz a todo o tipo de ordenamento moral e ético que implique uma ordem social não dominável por factores estritamente políticos e materiais.

O homem despido da moral e de um código ético de legitimidade supra-Estado é o homem de sonho para os manipuladores do mundo, é o homem à beira da renúncia da verdadeira liberdade individual. A introdução e patrocínio de causas fracturantes, como o aborto, as barrigas de aluguer, a adopção gay, a eutanásia, não visam nenhum incremento da liberdade individual, mas sim relativizar o conceitos de supremacia da vida, quebrar o vínculo natural da maternidade, acabar com o conceito de família, tornar a morte uma decisão humana e administrativa.

Nada disto concorre para a a elevação e dignificação do Homem. Combatendo o Homem filho de Deus, fruto do amor perfeito do criador, portanto ser superior, livre e regido por uma moral que o tem sempre no seu centro, os guerrilheiros do relativismo jacobino disparam as virtudes ilusórias de um homem entregue a si mesmo, para que, orfão de referências e da transcendentalidade que o realizem, se entregue nas mãos de quem o dominará depois de nu de si próprio.

Cada vez que um Bispo, um Sarcedote, um fiel com voz pública decidam falar como parte de facção, supostamente ao lado de Francisco ou impetuosamente discordando de Francisco, estarão a esquecer o amor que o Papa suscita em cada fiel. Pior ainda, estão a escancarar as portas ao inimigo inclemente que ameaça a Igreja e o mundo que persiste em seguir Cristo.

É hora do silêncio.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.