Um mês cumprido de Donald Trump na Casa Branca, fazem-se sentir globalmente as ondas de choque provocada pelas decisões tomadas na Sala Oval – diretamente pelo presidente ou dando cobertura à demolição de estruturas da administração que Elon Musk vai protagonizando, por exemplo.

Era previsível que assim acontecesse com o imprevisível Trump. Todos tínhamos plena consciência de que vinha aí instabilidade, tensão, um período de fricção que ninguém sabe se será atenuado no futuro, porque desta vez o exercício do poder vem com baias muito baixas ou inexistentes. Nada disto constituiu novidade. E este papel de inimputável desempenhado pelo presidente norte-americano tem, até, uma faceta positiva, porque permite a outros uma saída para situações de bloqueio ou de procrastinação.

Olhe-se para a Europa, obrigada agora a procurar maior assertividade no que respeita à sua defesa, de forma mais rápida do que a caminhada lenta que tinha até agora sido feita. Ou para a guerra provocada pela invasão russa da Ucrânia, onde ninguém aceitava sentar-se à mesa, pelas mais diversas razões, que são agora secundarizadas em prol de um maior pragmatismo. Sem perder completamente a face.

É claro que a Europa tem de investir para se defender e para poder proteger os seus interesses; e é óbvio que a guerra no Leste europeu tem de terminar antes de escalar. Trump tem uma relação difícil com a verdade, as regras da diplomacia foram atiradas às malvas e ninguém percebe, nesta altura, quem é parceiro ou adversário, ou o grau de confiança que pode existir nas relações, mas sabe-se que quem não correr fica de fora, não conta, e que vão ser mais importantes os resultados do que o cumprimento das regras.