Os bancos portugueses têm batido recordes atrás de recordes com os gigantes pacotes de crédito malparado que têm vendido nos últimos tempos.

Parece a descoberta da “oitava maravilha” para a limpeza dos seus balanços e dir-se-á que como os accionistas ganham no médio e longo prazo em sequência da própria assunção de imparidades, este é o caminho possível e que porventura é necessário percorrer para se alcançar a meta da redução sustentável os níveis de NPL.

Estas vendas são frequentemente vendas a preços vis, porque, por mais que se crie o cenário de “frufru de vestidos”, de agitação e festa na alta-roda do sector imobiliário com os números astronómicos de volume de negócios apresentados, a verdade é esta: astronómicos são os descontos que os bancos fazem aos compradores e, no final do dia, essas perdas têm de ser recuperadas, por exemplo, por via das comissões cobradas aos depositantes, a quem os bancos não conseguem remunerar devidamente o dinheiro entregue à sua guarda e confiança.

Por outro lado, existe o perigo de passar uma mensagem errada aos agentes económicos e há uma lição que não estamos certos que se retire para o futuro.

Por banda dos incumpridores, a conclusão pode ser simplesmente que não pagar compensou, porque não pagaram ao banco e agora poderão libertar os seus bens ou renegociar a dívida com os compradores do malparado, por muito menos do que o valor não pago.

A quem adquire estes créditos não performativos, o mercado permite fazer negócio como quem espera pela hasta dos bens de um nobre falido para comprar o recheio dos palacetes a preço de saldo, de liquidação total…

Mas sejamos claros. A titularização e a venda de créditos de difícil recuperação é uma solução para um problema sério! E a limpeza de balanços pode, neste sentido, revelar-se “a oitava maravilha para os bancos” se estes começarem já a ser mais cautelosos na concessão de crédito (na avaliação de risco, na monitorização, nas garantias) e também na gestão de incumprimentos.

A legislação portuguesa dispõe de ferramentas para os credores reforçarem a sua legítima expectativa e perspectiva de satisfação do crédito, antes mesmo de o devedor deixar de pagar. Há que conhecê-las e não ter vergonha de as utilizar! Assim, de seguro, na próxima crise, os bancos não deixarão “a confissão para a hora da morte”…