Na passada semana, Israel lançou uma operação militar contra a Palestina como não se via há anos. Desde o início da ofensiva, o exército israelita (Israel Defense Forces, IDF) – um dos exércitos mais avançados do mundo – já lançaram mais de 1.350 ataques, vitimando para cima de 130 palestinos, incluindo crianças. De acordo coma BBC, só nos ataques deste domingo, terão morrido pelo menos 40 pessoas em Gaza.
Para além disso, há ainda a lamentar centenas de desaparecidos e mil feridos na Palestina. Não é uma guerra, não é um conflito, é aniquilação.
Desta vez, tudo começou com a ordem de expulsão de palestinos das suas casas em Jerusalém. Há relatos de bandos de extrema-direita israelitas a marcarem as portas de famílias palestinas com tinta vermelha nos bairros árabes de Haifa. Há dezenas de relatos de protestos e confrontos em várias cidades e, durante semanas, o governo israelita foi acusado que querer levar a cabo uma política de apartheid negando às populações árabes acesso às vacinas contra a Covid-19 (ver aqui).
A desproporção da violência explica-se em poucas palavras: os palestinos dispararam milhares de rockets, mas 90% foram intercetados pelo sistema de defesa israelita Iron Dome. Já o exército israelita gaba-se de avisar previamente dos ataques que irá fazer, já que o seu poder de fogo é brutal e extremamente preciso. No sábado, o IDF avisou que iria destruir o prédio da estação noticiosa Al-Jazeera na faixa de Gaza e uma hora depois o edifício caiu por terra. Este ato só pode ser visto como uma tentativa de limitar o que a comunidade internacional pode saber sobre os ataques israelitas.
Tudo isto acontece com a agravante de a violência ocorrer no fim do Ramadão e de Israel ter atacado a terceira mesquita mais importante do Islão, com os seus apoiantes a cantar e a dançar enquanto o templo ardia.
Este ato é uma limpeza étnica e a escala de violência parece estar mais ligada à incapacidade de Netanyahu formar governo e precisar de uma saída para a crise política do que a qualquer ação da Palestina.
Apesar de ser claro para todos que isto não se trata de um conflito entre países, mas mais de um ato de violência por parte do governo israelita, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português lançou uma mensagem nas redes sociais que nos deve envergonhar a todos, condenando apenas “o lançamento indiscriminado de mísseis a partir da Faixa de Gaza contra civis israelitas”.
É uma posição nova por parte do Governo de António Costa, que abandona uma posição humanista e de defesa dos Direitos Humanos e antes se coloca ao lado do agressor, ao lado da fação mais forte, ao lado de uma extrema-direita que está a usar o sangue das pessoas que vivem nos territórios ocupados para garantir a sua permanência no poder.
Com esta nova posição de defesa de um país que impõe um regime de apartheid, o Governo de António Costa passa a figurar ao lado do governo de Cavaco Silva quando Portugal votou na ONU contra a condenação do regime de apartheid da África do Sul e contra a libertação de Nelson Mandela, em 1987.
A desproporção de força entre o lado palestiniano e o lado israelita faria com que a posição equidistante de Portugal fosse colocar-se ao lado do mais forte, mas o Governo fez pior do que isso e apoia este ataque de Netanyahu contra a Palestina e os Direitos Humanos.
Esta segunda-feira, 17 de maio, está marcada uma manifestação de solidariedade para com o povo palestiniano às 18h no Martim Moniz em Lisboa. É um momento importante para também forçar o governo português a mudar a sua política internacional.