O ano de 2023 não será fácil. Também já o de 2022, que o “The Economist” batizou o ano do choque das taxas de juro, não foi. Lembra-nos esta revista que as cinco piores semanas da bolsa americana se deram na altura das subidas dos juros. No ano, o S&P 500 caiu quase 20%, o Nasdaq mais de 30%, o Bloomberg US Aggregate, que cobre obrigações americanas, 12% e o ouro 1,5% em dólares. Isto é, não ouve escapatória. As perdas de valor nos mercados de capitais aproximaram-se dos 35 milhões de milhões de euros, pouco abaixo do PIB das economias americana e chinesa combinadas.

Para 2023 o cenário é cinzento. O FMI antecipa que um terço da economia mundial pode estar em recessão, incluindo a economia americana e parte das europeias. Diz o Barclays que este será um dos piores anos dos últimos 40. A reabertura da economia chinesa pode ajudar a minorar este efeito, mas não é de esperar contributo dos bancos centrais pois a inflação, se bem que em redução, tem mostrado ser resiliente – o mercado atribui probabilidade de 75% a uma subida de um quarto de ponto da target rate da Reserva Federal (Fed) dos EUA e 25% de meio ponto na reunião do Open Market Committee que terá lugar daqui a 22 dias.

Com o mercado financeiro a evoluir desta maneira, não estranha que a Goldman Sachs tenha considerado a possibilidade de um shutdown o maior risco. O recente episódio da nomeação do Speaker of the House só o veio confirmar – a política fiscal americana estará debaixo de holofotes em 2023. No último minuto, enquanto estive a olhar para o usdebtclock.org, a dívida americana aumentou três milhões; evoluiu de pouco mais de 30% do PIB na viragem do milénio para 97% – como diria Dumas – 20 anos depois.

No Outono, quando for necessário elevar o limite da dívida, como vão os democratas negociar com os republicanos quando é impossível saber como vão os republicanos, entre eles, entender-se e a malta da MAGA já nem ouve Trump? Isto quando o défice orçamental (1,4 milhões de milhões de dólares, cinco vezes e meia o PIB português; se é verdade que é metade do défice de 2021, está 340 mil milhões acima da previsão de maio de 2022 do Congressional Budget Office) tem um custo que passou de praticamente 1,5% para uma taxa pouco abaixo de 4%.

Ou seja, a Câmara dos Representantes vai, situação nova em 30 anos, lidar com custos de financiamento do Estado a aumentarem significativamente, e quando as políticas orçamental e monetária vão apontar para direções diferentes.

Agora é esperar. A expectativa é que a taxa de inflação nos EUA se situe em 6,6%, uma queda dos 7,1% de novembro, o que irá reduzir o ritmo das subidas de juros e amenizar os problemas. A curto prazo a Fed continuará a ser o barómetro da economia mundial, e Powell o Torricelli de serviço. Mas à medida que a situação estabilizar nos EUA, ficarão a descoberto as vulnerabilidades noutros locais. É como o vento: a coisa vai soprar dos centros de alta pressão para os de baixa pressão.