Há baptismos muito infelizes. Embora não se goze com o nome das pessoas – não foram elas quem o escolheu – os governos arranjam sempre uns acrónimos e têm umas ideias que metem dó. Chamar bazuca, como fizeram os políticos, ao Plano de Resolução e Resiliência (PRR) pode ser considerado por alguns génios do marketing uma audácia imaginativa digna de um Leão de Ouro nos prémios mundiais da publicidade. Acontece que bazuca é uma arma mortal e uma arma mortal jamais pode ser considerada uma coisa boa ou servir como metáfora e uma política pública ambiciosa.

Ora bem, o PRR vai ter uma grande vindima em 2025. Se lhe juntarmos os outros fundos e programas de Bruxelas, em especial o Portugal 2030 e a PAC, a chuva de euros a fundo perdido atingirá os 10 mil milhões, o equivalente a 27,3 milhões de euros por dia. Nem ao domingo, dia do Senhor, o vil metal deixará de pingar nos cofres do Estado português. Dez mil milhões de euros é tanto dinheiro que exige um ponto de comparação: desde a entrada na CEE, em 1986, a média anual de fundos que chegou ao Terreiro do Paço com o selo da UE foi de quatro mil milhões de euros, o que significa que o Governo e as empresas privadas com projectos aprovados terão mais do dobro para gastar do que é normal.

Estupendo, não é? Talvez sim, se formos capazes de concretizar o que está no papel. Para já, o caminho tem sido sinuoso: cumprimos 23% das metas e 38% do dinheiro está em trânsito nos cofres do Estado. Péssimas notícias. Talvez Castro Almeida encontre a via rápida para evitar um desperdício histórico.