A visita do Presidente da República à China constituiu um passo bem sucedido no sentido de uma maior proximidade entre Portugal e o gigante asiático, dono da segunda maior economia do mundo. Portugal vai passar a fazer parte do grupo restrito de países com quem a China mantém contactos permanentes sobre temas cruciais.

Mas esta maior proximidade entre Lisboa e Pequim não é do agrado de vários setores. Este será mesmo o único ponto em que a nossa extrema-esquerda está de acordo com os atlantistas mais fervorosos. Uns dizem que Portugal não deve ter relações próximas com um país onde, acusam, os direitos humanos não são respeitados. Outros alegam que o nosso país, membro fundador da NATO e aliado fiel dos EUA, não deve dar grandes confianças à grande rival geostratégica de Washington.

Estes dois argumentos são enganadores. Em primeiro lugar, porque o comércio é provavelmente a melhor forma de transmitir os nossos valores de democracia, pluralismo e direitos humanos, porque onde existe comércio há troca de ideias, sobretudo quando se estabelecem relações de longo prazo. Os próprios EUA fizeram-no com vários países da Ásia e da América Latina que, abrindo-se ao mundo, em poucas décadas se transformaram de forma radical. Claro está que alguns não gostam disso.

Por outro lado, o comércio é uma garantia de paz. Ninguém prefere a guerra quando pode ganhar mais estando em paz. As grandes ameaças à paz mundial não vêem da China e de outros países que, independentemente do sistema político, dependem do comércio internacional para sobreviver, mas sim daqueles que se fecham ao mundo. À sua maneira, ao ajudar a um reforço dos laços entre o Ocidente e a China, o pequeno Portugal – que permanece um membro leal da NATO e da União Europeia – está a contribuir para a paz mundial.