Há uma tristeza física e metafísica em ver o que aconteceu às Pousadas de Portugal. Não é só nostalgia: é o choque de pagar mais de 200 euros por noite para dormir num edifício histórico e acordar no cenário de uma vetusta pensão esquecida pelo tempo.

Alcácer do Sal é só o exemplo do que se tornou regra: apesar da magnífica localização, o serviço é medíocre, o restaurante permanece fechado a sete chaves até à hora de jantar, mesmo em época alta, o bar só abre a partir da uma da tarde, a piscina não tem um empregado à vista: apenas os clientes que resistem à canícula como náufragos perdidos num mar de desleixo. O que era charme, autenticidade e serviço de qualidade, embora um pouco, digamos, ancien régime, converteu-se numa operação de má qualidade, onde o hóspede é um detalhe e o preço apenas se justifica pelo pedigree desbotado.

O Grupo Pestana, que gere a rede e detém 85% do capital do negócio, confundiu boa gestão e contenção de custos com amputação da alma. O Estado, dono dos edifícios, assiste à erosão silenciosa do património e da marca, como se a concessão fosse um bilhete para a indiferença. O mobiliário é velho, a manutenção é feita a conta-gotas, o serviço é uma sombra do que já foi. As queixas, bem ilustradas, multiplicam-se em sites especializados, apontando refeições sem imaginação, quartos sem conforto, funcionários em número insuficiente e desmotivados. É justo reconhecer que há pousadas bem classificadas, sobretudo as mais recentes ou renovadas, mas são a minoria.

As pousadas eram um símbolo nacional, onde a história se fundia com a hospitalidade. Hoje, são uma certa ideia de fazer turismo a caminho da irrelevância, vítima de uma gestão que trocou o brilho pela rotina e pela lógica de sacar o máximo e dar o mínimo. O que sobra? Talvez apenas um país que se habituou a ver uma parte do seu passado transformado em negócio de ocasião. Em 2023, Portugal recebeu 30 milhões de turistas, um recorde que torna mais urgente uma resposta pública à calamidade que ameaça este património único. O prestígio do Grupo Pestana está em risco, mas esse é um problema do acionista. As pousadas são um bem público, respeitemo-lo.