Foram 18 anos de investimento e, porque não, de uma certa loucura. No entanto, em 2020, finalmente a Tesla de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, alcançou o seu primeiro ano de lucro, concretamente 721 milhões de dólares. O tão sonhado ano mágico para os investidores aconteceu muito devido à inauguração de uma fábrica em Xangai, que produz os modelos Y e 3.

Mas como acontece em todos os negócios, o oceano azul começa a ficar vermelho. Foi meritório o trabalho da Tesla em “educar” o mercado dos carros eléctricos nos últimos anos, mas agora esse mesmo mercado está preparado para agir em 2021. Se antes a Tesla não tinha praticamente concorrência, agora o cenário é totalmente diferente. Um dado que já foi sentido no último trimestre de 2020, e fez, segundo os analistas que acompanham o sector, com que os resultados ficassem aquém do esperado.

Por exemplo, na Europa, as vendas caíram, fruto da concorrência dos modelos da Volkswagen, Renault, Hyundai e outras fabricantes, que lançam carros eléctricos cada vez mais acessíveis aos bolsos dos consumidores. Na China, o Tesla Model 3 (primeiro do mercado eléctrico em Portugal), que era líder no país, foi ultrapassado pelo citadino Wuling Hongguang Mini EV 8 (2,9 metros de comprimento de 1,49 metros de largura), hoje o carro eléctrico mais desejado pelos chineses. Preço? Cerca de 4.800 euros com ar condicionado.

O sinal de alerta para a Tesla também disparou na Noruega, o primeiro país onde as vendas de carros eléctricos superaram os carros movidos a combustíveis fósseis. No país nórdico, o Modelo 3 perdeu a liderança para o Audi e-tron.

Recentemente, o CEO da BMW, Oliver Zipse, afirmou à Bloomberg que não acredita que a Tesla continue a crescer 36% ao ano, como aconteceu entre 2019 e 2020, já que a concorrência dos construtores tradicionais é e será cada vez maior no mercado. A própria BMW vai lançar este ano o iX, o seu SUV eléctrico topo de gama.

Se antes a Tesla nadava praticamente sozinha no ‘oceano azul’, agora as construtoras tradicionais também pretendem nadar. A Volvo já anunciou que pretende vender, a partir de 2030 (ou seja, daqui a apenas nove anos), só veículos eléctricos, embora a perspectiva seja que, em 2025, metade das vendas provenham de carros eléctricos e a outra metade de veículos híbridos. Ou seja, daqui a quatro anos, a Volvo pretende deixar de vender veículos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel. E não podemos ignorar que a Volvo tem apenas no seu catálogo um carro eléctrico, o XC40 Recharge.

O mercado começa agora a perguntar-se se a Tesla terá músculo para lutar com o poder de investimento das construtoras tradicionais (somente no terceiro trimestre de 2020, a General Motors lucrou 4 mil milhões de dólares, ou seja, cinco vezes mais do que o lucro total da Tesla em todo o ano), que resolveram finalmente apostar nos veículos eléctricos, muito fruto da mudança comportamental que vivemos, mas também das exigências ambientais que o mundo atravessa.

Só a Volkswagen pretende investir nos próximos anos 2,6 mil milhões de dólares em carros eléctricos e autónomos (já foi revelada uma parceria com a Microsoft, por exemplo), uma demonstração clara de que o oceano azul da Tesla já começa a ver formar-se no horizonte algumas ondas gigantescas. No entanto, não se pode ignorar o know-how alcançado pela empresa de Elon Musk nos últimos 18 anos, uma experiência que deverá ser fundamental para encarar o futuro e a concorrência.

Essa luta de titãs que se avizinha poderá ser decisiva para o meio ambiente, já que os investimentos na indústria serão cada vez maiores, tanto ao nível de baterias, como também na busca de outras alternativas, como os carros movidos a hidrogénio (fuel cell), com a Toyota e a Hyundai à frente desta nova tecnologia, que poderá colocar em xeque as baterias dos carros eléctricos, precisamente um dos sustentos da Tesla.

A corrida parece só agora estar a começar.