2017 será um ano em que as contradições criadas pelo desenvolvimento tecnológico serão cada vez mais evidentes. O progresso das tecnologias, em crescente aceleração, não tem um impacto neutro na sociedade e passará a afetar de uma forma cada vez mais tangível e desigual a vida e os interesses das pessoas.

No meio de um ano de 2016 calamitoso, que será provavelmente considerado como um ano negro para a história, o desenvolvimento tecnológico tem continuado a ser um contraponto amável e globalmente positivo para a sociedade. Mas o aprofundamento da transformação digital, em que todos somos incumbentes, acelerará as fricções próprias da transição entre esse velho mundo que resiste a mudar e o novo mundo que parece nunca acabar de se cristalizar. São os estertores típicos de uma transformação profunda, em que todo o produto submetido ao impacto da mudança digital está condenado a transformar-se num serviço, o que será altamente disruptivo para o conjunto da sociedade.

No âmbito económico, enquanto as nossas empresas continuam a proclamar que põem as pessoas no centro do seu pensamento, os robôs vão substituir cada vez mais trabalhadores não só nas fábricas, mas também nos consultórios de radiologia, nos gabinetes de contabilidade e nos escritórios de advogados. E a aceleração do processo de substituição reforçará os argumentos de quem defende que esses robôs devem contribuir para a segurança social para garantir a sustentabilidade do contrato social.

A tecnologia continuará a impulsionar novos modelos de negócio com base em ativos subutilizados que concentram o património familiar, como a habitação ou o automóvel. E, por essa via, criará mais trabalhos, mas destruirá muitos empregos estáveis de pessoas com dificuldade em serem reenquadradas no novo mundo digital.

Em 2017 continuará a integração das tecnologias e a desintegração social das pessoas, criando muito valor para os utilizadores, mas destruindo riqueza e capital social, o que exigirá novos mecanismos de compensação e reequilíbrio para proteger os menos qualificados. São os paradoxos próprios de qualquer revolução tecnológica, análogos aos que, no passado, a sociedade enfrentou e resolveu.

No plano individual, aumentará a sobre-exposição aos estímulos digitais que, em vez de nos aproximar, tenderão a isolar cada vez mais as pessoas. Poderemos aceder a cada vez mais dados e notícias, mas continuaremos desinformados e manipulados pelo que até agora eram mentiras e passaram a ser designadas como ‘post-verdade’.

Todos estes paradoxos, que conjugam as vantagens intrínsecas à evolução tecnológica com a impreparação social para distribuir de forma homogénea os seus benefícios, têm que ser proativamente geridos porque não poderão ser espontaneamente resolvidos. E, para isso, os governos deverão promover políticas cada vez mais explícitas que garantam a sustentabilidade económica, a proteção dos direitos individuais e a coesão social.