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Ações dos bancos arrastadas pela queda dos juros da dívida soberana (que ajuda EUA a refinanciar-se)

Os EUA têm 28 triliões de dólares em dívidas com vencimento entre 2026 e 2030. As yields das obrigações norte-americanas rondam os 4% e cada ponto base extra é uma bomba-relógio orçamental. Pelo que a queda das yields ajuda a administração Trump.
7 Abril 2025, 07h00

Os receios de impacto económico das tarifas da reciprocidade, anunciadas pelo Governo dos Estados Unidos, na passada quarta-feira, têm levado a uma queda expressiva das yields de dívida soberana e a banca acabou por sentir o efeito.

No dia a seguir ao Dia da Libertação, as ações dos bancos dos EUA caíram para mínimos de vários meses com receios de uma recessão e de uma desaceleração dos gastos dos consumidores, o que poderia prejudicar os lucros.

O Citigroup caiu mais de 12%, enquanto o Bank of America afundou 11%. O Morgan Stanley, o Goldman Sachs e o Wells Fargo caíram mais de 9% cada. O JPMorgan Chase, o maior banco dos EUA, caiu mais de 7%.

Na sexta-feira foi a vez da banca europeia sofrer quedas em torno dos 10%. O Stoxx Banks recuou 8,41%.

O BCP tombou 9,43% fechando a cotar 0,49 euros. Os bancos espanhóis não ficaram atrás. O Santander desceu 8,77%; o Caixabank perdeu 10,30%; o BBVA 9,37%; e o Sabadell deslizou 10,97%.

Noutros países, o britânico Barclays recuou 9,15% e o Lloyds Banking Group perdeu 6,26%. Já o francês BNP Paribas caiu 6,82%; o Société Générale tombou 10,45%; e o Crédit Agricole também caiu na Bolsa de Paris 4,46%.

Na Alemanha, o Deutsche Bank fechou a cair 9,77% e o Commerzbank caiu 5,38%.

Os bancos italianos seguiram a tendência. O Intesa Sanpaolo recuou 7,31% e o UniCredit 9,58%.

O holandês ING Group desceu 7,55%. Por seu turno, a Escandinávia não escapou ao sell-off pois o banco finlandês Nordea Bank recuou 7,36%, o sueco Svenska Handelsbanken deslizou 8,09% e o dinamarquês Danske Bank tombou 11,69%.

A reação dos investidores está ligada ao facto de as tarifas poderem acelerar o ritmo de descida dos juros dos bancos centrais (BCE e Fed) e de isso ter um impacto direto na receita de margem financeira dos bancos.

“Por detrás do teatro político, há uma realidade mais fria: os balanços e os mercados obrigacionistas”, refere na sua página do Linkedin, Carlos Lobo, ex-EY e founding partner da Lobo, Carmona & Associados, Sociedade de Advogados.

As obrigações a 10 anos dos EUA negociavam na sexta-feira com uma yield de 3,884%, 17 pontos base abaixo do fecho de quinta-feira, atingindo o nível mais baixo dos últimos seis meses.

Os EUA têm 28 triliões de dólares em dívidas com vencimento entre 2026 e 2030. As yields das obrigações norte americanas rondam os 4% e cada ponto base extra é uma bomba-relógio orçamental.

“Então, qual é a verdadeira jogada eleitoral? Queda da procura, rendimentos (yields) mais baixos permite refinanciar a dívida pública a um valor mais baixo. Ao mesmo tempo receitas fiscais (tarifárias) extra e menos despesas (ajuda externa, erradicação de organismos públicos… sendo Musk o bode expiatório…). Este pode ser o ajustamento financeiro mais violento de sempre”, analisa Carlos Lobo.

No dia do sell-off, os analistas do Millennium Investment Banking notavam os rumores de que Donald Trump causou esta guerra tarifária de forma propositada para estimular o consumo de produtos norte-americanos e ao mesmo tempo para que uma queda das yields force a Fed a reduzir taxas de juro.

“Entretanto, junto ao fecho das praças no velho continente, o presidente do Banco Central norte-americano discursava e referia que as tarifas iriam causar impacto mais persistente na inflação e acima do esperado na economia e reiterou o seu combate à inflação, no que parece ser uma espécie de braço-de-ferro com Trump”, escrevem os analistas da MTrader.

“É demasiado cedo para dizer qual será o caminho apropriado para a política monetária”, avisou Jerome Powell, que resiste aos apelos do presidente norte-americano para que corte os juros.

“Embora seja altamente provável que as tarifas gerem pelo menos um aumento temporário na inflação, também é possível que os efeitos sejam mais persistentes”, disse Powell.

As tarifas anunciadas pela administração Trump foram mais elevadas do que a maioria dos analistas esperava, elevando as tarifas médias dos EUA para pouco menos de 30%, o nível mais elevado desde 1920 e terão como alvo países com grandes excedentes comerciais bilaterais, particularmente na Ásia. O México e o Canadá foram isentos, e as tarifas automóveis anteriormente anunciadas estão incluídas nas novas taxas.

Paolo Zanghieri, senior economist da Generali Investments, comenta que “provavelmente já passámos o pico de incerteza, mas esta continuará forte. Prevemos que as yields da zona euro atinjam o fundo do poço no Verão”.

O mesmo analista diz que “os aumentos das tarifas são um game changer“. Os EUA imporão uma tarifa universal de 10% a todos os parceiros comerciais. Os 60 países com os quais os EUA têm o maior défice comercial estarão também sujeitos a uma “tarifa recíproca individualizada mais elevada”, que visa também ter em conta as barreiras não comerciais. As tarifas não serão aplicadas a barras de ouro, produtos energéticos e minerais não encontrados nos EUA, bem como a semicondutores e produtos farmacêuticos.

Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, disse esta sexta-feira que a situação atual dos mercados não significa um colapso da economia.  “As economias não estão em colapso. Os mercados estão a reagir a uma mudança dramática na ordem global em termos de comércio”, disse.

Marc Rubio manifestou otimismo em relação à recuperação dos mercados financeiros, mesmo diante da continuidade do sell-off. A sua expectativa é que, com a estabilização das normas comerciais, os mercados possam estabilizar e recuperar gradualmente.

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