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Ações em máximos, mas swaps negativos com mais dívida

Ações alemãs sobem 17% no ano, enquanto bolsas americanas seguem em mínimos dos últimos seis meses, mas juros de longo prazo sobem.
bolsa de Lisboa mercados
8 Março 2025, 19h00

Os ‘swaps do euro’ a 10 anos estão abaixo dos rendimentos da dívida pública alemã com o mesmo prazo, refletindo a perceção dos investidores de que a dívida do Estado alemão é agora mais arriscada do que a das principais instituições financeiras europeias. Esta tendência acentuou-se sobretudo após o colapso da coligação governamental na Alemanha, a 6 de novembro de 2024, e a marcação de eleições antecipadas para 23 de fevereiro de 2025, anunciadas a 13 de novembro. Porém, a perceção de risco sobre a dívida alemã já vinha a intensificar-se há dois anos, após duas recessões consecutivas — algo que só tinha ocorrido uma vez desde a Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, a diferença entre os swaps e as bunds voltou a agravar-se, atingindo esta semana valores inéditos, quase 20 pb, desde a criação do euro, em janeiro de 1999. O anúncio de um pacote financeiro de 500 mil milhões de euros — cerca de 12% do PIB alemão, acordado entre os dois principais partidos germânicos — para reforço das forças armadas e investimento em infraestruturas ao longo dos próximos 10 anos, intensificou ainda mais a perceção de risco da dívida soberana alemã face à emitida pelas principais instituições financeiras europeias.

Este cenário levanta dúvidas sobre a manutenção da classificação máxima de crédito “AAA” da Alemanha, com perspetiva estável. Um Estado para ser forte, a sua economia também tem de ser robusta. Se for necessário aumentar a dívida pública para financiar investimentos, a economia deve ter empresas suficientemente resilientes para suportar o esforço fiscal necessário ao pagamento dessa dívida. Todavia, a recessão instalou-se na Alemanha nos últimos dois anos, enfraquecendo o poder da economia privada para financiar o Estado. Além disso, a Alemanha enfrenta custos energéticos mais elevados, com o fim do gás natural barato da Rússia, e custos laborais relativamente altos, fatores que reduziram a competitividade enquanto potência exportadora. A poderosa indústria alemã, nomeadamente o setor automóvel, está cada vez mais pressionada pela ascensão da indústria automóvel chinesa, altamente tecnológica e competitiva.

O forte aumento da dívida pública, conjugado com uma economia germânica mais frágil, leva os investidores a antecipar uma descida do rating do governo alemão. Esta perceção reflete-se na subida dos juros da dívida soberana, que ultrapassam os ‘swaps do euro’ relativos às principais instituições financeiras europeias. Além disso, verifica-se um efeito de crowding out. Com o governo a absorver uma fatia maior do stock de crédito disponível, as taxas de juro de longo prazo, nomeadamente do Bund, aumentam, encarecendo o financiamento privado. Este efeito penaliza a maioria do tecido empresarial germânico e europeu.

No entanto, a expectativa de ganhos por parte de empresas que lucram diretamente com este pacote financeiro impulsiona o DAX 40 para máximos históricos, sobretudo nos setores da defesa e infraestruturas, enquanto o restante setor privado enfrenta custos financeiros acrescidos devido ao impacto do crowding out.

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