O acordo histórico fechado entre o Reino Unido e a União Europeia para remover os controlos sobre exportações de alimentos adicionará acrescentará 9 mil milhões de libras (cerca de 10,7 mil milhões de euros) à economia do Reino Unido e reduzirá os preços dos alimentos, o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, no final da cimeira entre os dois blocos. Starmer – que prometeu um novo acordo com a União durante a campanha eleitoral que o haveria de levar a uma vitória histórica sobre os conservadores – disse que o acordo resulta num “reinício” das relações entre os dois blocos.
O acordo concederá aos pescadores da União acesso às águas britânicas por mais 12 anos (uma reivindicação insistente dos pescadores franceses) e abrirá caminho para a remoção de controlos sobre as exportações de alimentos britânicos, permitindo que tudo, desde o “ótimo hambúrguer britânico até frutos do mar”, seja vendido novamente com facilidade na União, disse Starmer. O acordo reaviva a esperança do regresso do Reino Unido ao programa de intercâmbio universitário Erasmus e a criação de um esquema de mobilidade juvenil que permita aos jovens britânicos experimentar viverem na União.
Segundo o jornal ‘The Guardian’, o Reino Unido afirmou que o acordo tornará “os alimentos mais baratos, reduziria a burocracia e abrirá o acesso ao mercado da União”. Mas a contrapartida do acordo é o acesso e os direitos de pesca por mais 12 anos – mais do que o Reino Unido havia oferecido – o que provavelmente levará a protestos de traição por parte da indústria. Ainda no que tem a ver com a exportação de bens alimentares e bebidas para a União, o acordo prevê que o Reino Unido aceite um alinhamento com os padrões alimentares do continente. O acordo prevê ainda que os britânicos atribuam um papel ao Tribunal de Justiça Europeu no policiamento do acordo – sendo certo que aquela estrutura era profundamente ‘odiada’ pelos ‘brexiters’. “Não se trata de reabrir velhas feridas; trata-se de virar uma nova página”, disse o primeiro-ministro britânico.
Por seu lado, Ursula Von der Leyen disse que o acordo é importante também na circunstância de que envia uma mensagem ao mundo de que, num momento de grande turbulência política, a Europa se uniu e mostrou que a estabilidade é possível. “É hora de olhar para o futuro, de deixar para trás os velhos debates e disputas políticas e encontrar soluções práticas e sensatas que sejam o melhor para o povo britânico”, disse ainda Starmer.
Outro acordo alcançado na cimeira de Lancaster House vincula o comércio de emissões, o que, segundo o Reino Unido, evita que as empresas sejam afetadas pelo imposto de carbono da UE, que deve entrar em vigor em 2026. O acordo também protege as importações de aço britânico das novas tarifas da União, criadas para combater as tarifas que a Casa Branca quer impor ao bloco dos 27. Os turistas britânicos também poderão usar os portões europeus nos aeroportos, acabando com as longas filas para usarem as entradas para cidadãos não europeus. Os dois blocos acordaram ainda negociar outros temas importantes, incluindo um acordo sobre dados de reconhecimento facial – um pedido fundamental para Starmer, que assim quer garantir o combate ao crime transfronteiriço e aos gangues de tráfico de imigrantes.
Mas, ao contrário do que chegou a ser avançado por alguns jornais, não haverá para já a entrada do Reino Unido no perímetro do fundo de defesa de 150 mil milhões de euros (a parte da Comissão nos 800 mil milhões previstos) que permitiria que empresas de armas do Reino Unido concorram a contratos.
Quase uma década após o referendo ao Brexit e cinco anos depois da saída formal do Reino Unido, o apoio público à saída diminuiu desde a votação de 2016 (52% contra 48%): uma sondagem da YouGov realizada no início deste ano revelou que apenas 30% dos britânicos consideram que foi correto o Reino Unido votar pela saída da União, contra 55% que consideram a decisão errado.
O Brexit impôs barreiras comerciais, o que prejudicou as exportações de bens do Reino Unido, recordam analistas citados pelo ‘The Guardian’. A União é o maior parceiro comercial do Reino Unido: em 2024, as exportações do Reino Unido para os 27 somaram 358 mil milhões de libras (425 mil milhões de euros, 41% do total das exportações) e as importações, 454 mil milhões (539 mil milhões de euros, 51% do total). Desde o fim do período de transição (31 de dezembro de 2020), o crescimento das exportações de bens do Reino Unido caiu significativamente: em 2024, as exportações de bens para a União estavam 18% abaixo do nível de 2019 em termos reais.
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