Os tempos na Europa e nos Estados Unidos têm sido carregados de demagogia e de populismo, e um dos temas preferidos tem sido o da fragilidade da moeda única europeia como uma das causas responsáveis pela crise dos últimos anos.
Esta conclusão quase panfletária surge numa dimensão política e numa caracterização económica, e é-nos apresentada como diretamente ligada à perda de soberania dos Estados e aos malefícios da globalização.
A economia nacional é marcadamente aberta e assente nas importações e exportações dos produtos produzidos. A produção nacional, em tempos passados assente numa estratégia de salários baixos, hoje moderniza-se. Mas a incidência de comissões bancárias, taxas e impostos, depreciação e correção monetária ou flutuações cambiais – nacionais e externos – representa um impacto tremendo na perda de competitividade da produção nacional, encarecendo o valor final dos produtos produzidos em Portugal.
A decisão da adoção da moeda única europeia surgiu como forte meio de alicerçar o projeto europeu e como instrumento facilitador das trocas comerciais entre os Estados de um mesmo espaço económico, numa dupla dimensão política e económica.
Curioso associar os que agora defendem o fim do euro enquanto moeda única. Neles se inclui a nova administração Trump, o que se compreende na perspetiva de enfraquecer uma Europa unida, ou a extrema-direita e extrema-esquerda, defensoras da regressão ao mundo em que os países competiam de forma agressiva e sem regras, erguendo barreiras e muros, mesmo que não sejam físicos.
Nesta crescente onda de demagogia populista, os extremos tocam-se numa incongruência gritante. Quem proclama o nacionalismo regressa a meados do século passado, ao início da cooperação europeia e internacional que levou à prosperidade durante os 50 anos seguintes.
Nos EUA retorna-se às políticas de isolacionismo do princípio do séc. XX que conduziram a crises várias, de dimensão financeira e de expressão política significativa, que só foram ultrapassadas quando o país cresceu além-fronteiras. Agora, fechar-se sobre si mesmos e em simultâneo condenar o euro é uma tentativa pobre de ensaiar o regresso do dólar ao tempo do seu esplendor e de domínio da política monetária mundial.
A opção pela moeda única europeia foi um ato consciente que, em termos nacionais, representou um avanço determinante no desenvolvimento do país. Embora careça ainda de correções, o mecanismo da moeda única contribui decisivamente para a competitividade das empresas portuguesas.
Os apelos à soberania para justificar a saída do euro representam o retrocesso e a negação do desenvolvimento e acentuam o primarismo do discurso, para permitir uma decisão por decreto que nos deixará mais atrasados, isolados e entrincheirados.
Num mundo inevitavelmente global promover o isolamento é condenar um país a um atraso irremediável. Aqueles que hoje proclamam o fim da moeda única fazem-no por demagogia, ato primário ou simplismo. Desistir do euro é condenar as empresas portuguesas ao atraso e à irrelevância, é impedir a Europa de manter uma posição relevante no mundo, enquanto bloco económico incontornável.