A Autoridade da Concorrência atravessou um período de jactância e tentações holywoodescas (luzes, foguetório e fama) durante a gestão de Margarida Matos Rosa.

Se os impulsos eram corretos – atacar os abusos de posição dominante, a exploração dos consumidores e a viciação da concorrência que destrói a vitalidade empresarial – os métodos usados e os alvos escolhidos deixaram a Autoridade da Concorrência (AdC) exposta a demasiadas derrotas em casos de enorme simbolismo – seguros, banca, hospitais privados e, ao que parece, grandes retalhistas.

Uma coisa é defender a economia, outra, muito diferente, é atacar sem a sustentação jurídica necessária, deixando atrás um viscoso lastro de desconfiança – desconfiança na economia de mercado e desconfiança nas capacidades técnicas do polícia das empresas.

Nuno Cunha Rodrigues, atual presidente da AdC, percebeu logo as areias movediças que herdou. Terá ainda de perder alguns megaprocessos antigos, mas não tem feito destes impactos um momento de desorientação, nem os converteu num haraquíri desmobilizador. Pelo contrário, a AdC parece mais atenta, mais preparada e mais interventiva – os números confirmam a dinâmica. Claro, os batalhões de advogados das grandes empresas são um osso duro de roer, mas esse não é um mau sinal. O país também precisa de grandes empresas e é natural que elas procurem defender os seus territórios comerciais, desde que o façam de forma legítima.

Nuno Cunha Rodrigues tem preparação académica e acuidade política suficientes para calibrar bem o gatilho e a mira. O balanço será feito no fim do mandato, mas, para já, revela os instintos certos – basta ler as entrelinhas da entrevista que publicamos hoje.

P.S.  O debate (fraquito) de anteontem não fez mexer a agulha, o que é mau sinal para Pedro Nuno Santos.