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Adeus, gigacentrais: Projeto do Pego vai ter duas centrais eólicas e cinco solares

O projeto para o ponto de ligação da antiga central a carvão do Pego começa a ganhar forma. Endesa evitou ter uma gigacentral e optou por espalhar a potência eólica e solar para evitar o cenário de tapete com os painéis solares ou de concentração de aerogeradores.
Paulo Cunha/Lusa
25 Julho 2024, 07h30

O projeto do Pego vai contar com duas centrais eólicas e cinco centrais solares. É esta a configuração encontrada pela Endesa para acomodar os 630 megawatts (MW) previstos para o projeto que venceu o leilão para o ponto de ligação da antiga central a carvão do Pego, distrito de Santarém. O objetivo da empresa é ter o projeto em operação em 2027.

A empreitada vai contar com as centrais eólicas de Aranhas (mais de 20 aerogeradores) e do Cruzeiro (mais de 20 aerogeradores); com as centrais solares de Concavada (menos de 50 MWp), Torre das Virgens (mais de 100 MVA), Atalaia (mais de 50 MVA), Comenda (menos de 50 MVA) e Helíade (mais de 50 MVA), segundo o  processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) do primeiro bloco do projeto, que corresponde ao Parque Eólico de Aranhas.

Em termos globais, o projeto conta com 365 MWp de energia solar, 264 MW de energia eólica, com 169 MW de armazenamento integrado e um eletrolisador de 500 kW para produzir hidrogénio verde.

Este projeto vai ligar-se a parte do antigo ponto de ligação à rede da central a carvão do Pego, que conta com 224 MVA.

A hibridização do projeto permite rentabilizar ao máximo o ponto de ligação: durante o dia injeta energia solar na rede; à noite aproveita a eólica e baterias.

As centrais vão ficar dispersas geograficamente, não centralizando no mesmo local toda a potência eólica e solar, evitando um cenário de tapete gigantesco com os painéis solares ou com os aerogeradores, segundo os mapas disponibilizados no estudo.

A central eólica de Aranhas terá uma capacidade de até “244 MW e uma produção anual de mais de 500 GWh, equivalente al consumo doméstico de 350 mil pessoas. O Projeto do Parque Eólico de Aranhas, e a respetiva ligação ao Posto de Corte do Pego, situa-se predominantemente nos concelhos de Chamusca e de Abrantes”, disse fonte oficial da Endesa ao Jornal Económico (JE) quando questionada sobre o projeto. 

“Devido à sua natureza híbrida, incluindo tecnologias eólica, solar e de armazenamento com baterias, e à sua dimensão, com mais de 600MW de capacidade a instalar, a Avaliação Ambiental do projeto do Pego foi fracionada em quatro blocos. Os restantes três blocos de projetos incluídos no Projeto de Transição Justa da Endesa no Pego serão submetidos a Consulta Pública ao longo dos próximos meses”, explicou a fonte oficial da empresa.

O grupo 1 conta com a central eólica de Aranhas, mais a Subestação Coletora de Concavada (SCC) e respetivas ligações à RESP. O grupo 2 conta com o Parque Eólico de Cruzeiro, sua subestação (PEC) e Respetiva Linha Elétrica de Ligação à Subestação Coletora de Concavada.

O grupo 3 conta com a Central Solar Fotovoltaica de Atalaia, sua Subestação e respetiva linha de ligação à Subestação de Comenda + Subestação de Comenda e respetiva linha de ligação até à Subestação Coletora de Concavada (SCC) + Central Solar Fotovoltaica de Concavada e suas componentes (inclusive armazenamento integrado – BESS, Unidade de Produção de Hidrogénio Verde – UPHV e Compensador Síncrono). E o grupo 4 conta com a Central Solar Fotovoltaica de Torre das Vargens , BESS e sua Subestação e respetiva Linha elétrica + Central Solar Fotovoltaica de Helíade e respetiva linha de ligação à Subestação de Comenda.

Sobre os principais impactes cumulativos do projeto, a empresa aponta que  “estão associados à Biodiversidade – com impactes potencialmente significativos relativos à fragmentação de habitats e afastamento de espécies com elevada valor para a conservação, e Paisagem – cujos impactes são considerados significativos, no entanto, visto os restantes elementos exógenos apresentam genericamente reduzida dimensão e se encontrarem dissimulados no seio do manto florestal, podem ser afigurados como pouco significativos”.

“Podem-se classificar, assim, genericamente como impactes negativos significativos ou pouco significativos. Os impactes em Ambiente Sonoro pelo funcionamento dos equipamentos prevê-se pouco significativo, estando os mesmos (aerogeradores e subestações), afastados de recetores sensíveis e cumprindo com os valores limite de exposição aplicáveis. Por outro lado, ao nível do Clima e Alterações Climáticas e Socioeconomia, prevê-se que cumulativamente com os projetos na envolvente, o Projeto venha a provocar impactes positivos significativos. Pode-se, também, o impacte positivo gerado pela integração das faixas de gestão de combustível às redes municipais, contribuindo assim para o combate à ocorrência de incêndios”, segundo o documento.

Na fase de execução do projeto, a Endesa propõe várias medidas para minimizar impactos, incluindo: “Garantir a aprovação do Exército Português e Força Aérea para a instalação das linhas elétricas nas áreas de servidão intersetadas; Garantir a balizagem aeronáutica de aerogeradores e linhas elétricas, de acordo com Circular de Informação Aeronáutica 10/2003 de 6 de maio; Otimizar o Projeto de Execução do Parque Eólico de forma a reduzir afetação de sobreiros, nomeadamente por parte dos acessos e valas de cabos; Proceder ao contacto com as Águas do Ribatejo e o Município de Chamusca, de forma a compatibilizar o atravessamento de vala de cabos de média tensão, junto da conduta de abastecimento existente”.

E também: “Definição das áreas de intervenção temporária (e.g. estaleiros, área de depósito), tanto quanto possível, em áreas já artificializadas ou de baixo valor ecológico; Evitar a afetação de áreas de habitats de interesse comunitário por plataformas dos aerogeradores, acessos e valas de cabos,
subestações e por apoios das linhas elétrica; Definir um Plano de Compensação de acordo com os resultados obtidos de Perda de Sumidouro de Carbono, em articulação com o ICNF e municípios onde se inserem os projetos”.

Endesa tem em curso investimentos de mil milhões de euros em Portugal

Tal como escreveu o JE a 10 de julho, a Endesa tem em curso investimentos de mil milhões de euros em Portugal, com o objetivo de construir um gigawatt (GW) de energias renováveis.

A companhia espanhola tem em mãos três grandes projetos: as centrais solares que saíram do leilão de 2020, o projeto para o ponto de ligação do Pego, e um projeto para construir uma central solar flutuante.

Em causa, estão “mil milhões de euros. O Pego é o maior com 730 milhões de euros de investimentos”, disse, ao JE, Pedro Almeida Fernandes, administrador da Endesa Generacion Portugal.

O objetivo é atingir “um gigawatt. É o nosso horizonte em 2027”, segundo o gestor, em declarações à margem da conferência “Energyear” que decorreu em Lisboa.

Na energia solar fotovoltaica, a companhia está a construir uma central solar de 100 MVA no Algarve; já na albufeira do Alto Rabagão, distrito de Vila Real, a companhia está a desenvolver um projeto de solar flutuante com 42 MVA.

Já no Pego, distrito de Santarém, a companhia está a instalar um projeto com 365 MWp de energia solar, 264 MW de energia eólica, com 169 de armazenamento integrado e um eletrolisador de 500 kW para produzir hidrogénio verde. Este projeto vai ligar-se a parte do antigo ponto de ligação à rede da central a carvão do Pego, que conta com 224 MVA.

O projeto do Pego está atualmente “em fase de licenciamento ambiental, a correr os trâmites. Está a seguir o calendário previsto. Estamos numa fase em que o projeto está em licenciamento. Os projetos são submetidos à APA e ainda haverá uma etapa de consulta pública”.

“O projeto está nas mãos das entidades licenciadoras. Não está nas nossas mãos, o projeto está em apreciação”, rematou.

A companhia espanhola é liderada em Portugal por Guillermo Soler, que substituiu, em 2023, o histórico líder Nuno Ribeiro da Silva.

Em março de 2022, a Endesa Portugal venceu o concurso do Pego, deixando pelo caminho a Tejo Energia Greenvolt, Brookfield & Bondalti, Voltalia e EDP Renováveis.

Após o encerramento da central a carvão do Pego, no final de 2021, os dois sócios da central, a Endesa e a TrustEnergy, entraram em ruptura por desacordo quanto ao rumo a tomar para o ponto de ligação.

A proposta de 900 milhões da TrustEnergy (consórcio franco-nipónico da Engie e Marubeni, que também está em fase de divórcio) dava primazia às energias renováveis, hidrogénio verde, mas também à queima de biomassa. Já a proposta da Endesa está mais focada nas energias renováveis e hidrogénio verde.

Conforme noticiou o JE em junho de 2023, a TrustEnergy avançou com um processo em tribunal para cancelar o leilão do Pego, que atribuiu parte do ponto de ligação da antiga central a carvão à Endesa, tendo levado o ministério do Ambiente a tribunal.

Estas duas empresas foram sócias durante anos na sociedade Tejo Energia, que geria a central a carvão, tendo deixado de produzir a 30 de novembro de 2021. Um mês antes, a Endesa (acionista minoritária) anunciou que tinha saído da gestão operacional da empresa, com a Tejo Energia a ficar entregue ao sócio maioritário.

Foi nesse ano que as duas sócias entraram em desacordo sobre o futuro a dar ao ponto de ligação. Um mal-estar que chegou a público a 28 de maio de 2021, conforme revelou então o JE.

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