Os ingleses gostam de dizer que ‘todas as coisas boas chegam ao fim’. Ao entrar nos meus últimos dias como Embaixador do Reino Unido em Portugal, estou bem ciente de que me estou a aproximar do fim de um dos capítulos mais gratificantes e importantes da minha vida.
Ter sido responsável, em certa medida, pela configuração da nossa amizade e aliança históricas nos últimos anos foi uma honra e um privilégio. Foram anos de convulsão política e económica, de pandemia, de conflitos em diferentes partes do mundo. Por vezes, tivemos a sensação de ter de responder a várias crises ao mesmo tempo.
Estas crises afetaram as relações e houve, como seria de esperar, alguns momentos difíceis. Mas estou imensamente orgulhoso pelo facto de a relação entre Portugal e o Reino Unido ter resistido a estas pressões, e de nos aproximarmos de meados da década com um espírito de amizade e cooperação que raramente foi tão forte.
Isto é importante porque países como o Reino Unido e Portugal, que partilham tantos interesses e valores, podem conseguir muito trabalhando em conjunto para enfrentar alguns dos grandes desafios globais que se nos deparam, como as alterações climáticas e a transição energética, a proteção dos oceanos, a saúde e o bem-estar das nossas populações envelhecidas, o reforço da nossa segurança económica através do comércio e do investimento, o apoio para retirar da pobreza as populações dos países em desenvolvimento, bem como a segurança do ciberespaço.
Nos últimos 18 meses, também colaborámos estreita e eficazmente no apoio aos nossos corajosos amigos da Ucrânia, que continuaram a resistir à invasão ilegal do seu território pela Rússia.
Numa coluna que escrevi para este jornal, durante as primeiras fases da pandemia, descrevi Portugal como um pequeno país com um grande coração. Uma das memórias mais importantes que guardarei dos últimos cinco anos foi a reação de Portugal à morte de Sua Majestade a Rainha, no ano passado.
Foi um momento de grande tristeza para o povo do Reino Unido e da Commonwealth. Aqui, em Portugal, ficámos profundamente sensibilizados com as manifestações de pesar e de condolências que nos chegaram de inúmeros portugueses que partilhavam o nosso sentimento de perda. E, no início deste ano, juntámo-nos com alegria para celebrar a coroação do nosso novo Rei.
Este ano assinala-se o 650º aniversário do primeiro grande Tratado de Aliança entre Inglaterra e Portugal. A amizade única e notável entre os nossos países e povos tem sido uma constante desde a Idade Média. Estou convencido de que continua a ser uma força para o bem no mundo de hoje.
Obrigado e adeus Portugal.