Rui Mingas era uma figura que gerava consenso, a sua estatura albergava uma essência de fino trato e gentileza. Nunca o conheci pessoalmente, mas acredito que muitos de nós tenham a mesma sensação do que eu, de que nos fez sempre companhia, pelos poemas musicados e por todo um percurso associado aos movimentos de libertação de Angola, em particular o MPLA.
Todos sabemos de cor a letra de “Minha Terra”, “Adeus a Hora da Largada”, “Nguidifangana” ou “Birin Birin”, que ouvimos vezes sem conta em casa dos nossos pais e anos depois.
Cantar em línguas nacionais no longínquo mil novecentos setenta e, era também um acto de rebelião, de afirmação da identidade, o assumir da nossa cultura e individualidade. O nosso hino escrito por Manuel Rui Monteiro e musicado por Rui é outro dos momentos que o liga à nossa história.
Muito já se escreveu sobre o seu percurso enquanto desportista, incentivando modalidades como o Atletismo ou Andebol, da sua veia diplomática e assertiva enquanto embaixador, mas para mim o tio Rui era um dos músicos que ouvia quando em Portugal queria estar mais próxima de Angola e sentia que de algum modo poderia contribuir para o meu país, em Minha Terra dizia:
“Minha terra, nossa terra meu eu entre a multidão
Minha pátria escola, céu e mar sem fim, (…)
Minha terra, minha raiz, diversos de cultura e cor
Chamo a ti país.
Creio em ti de norte a sul, creio na gente de mãos dadas (…) Creio que agora é de vez tem de ser já dessa vez. (…)
Minha Angola meu país a guerra ficou para trás, que haja gente para o tempo novo (…)
Minha terra nossa terra, liberdade e união, justiça trabalho e paz e Angola no coração (…)”
Quando fez 80 anos realizou-se um concerto em sua homenagem, a nova geração de artistas como, Kizua Gourgel Toty SaMed ou Gari Sinedima interpretaram as suas canções, numa casa lotada e emocionada, foi a última vez que o vimos em palco.
Sou uma pessoa atenta a pormenores e creio que, até ao partir, o tio Rui fica associado à nossa história, pois falece no dia 4 de Janeiro, que é o dia da Revolta da Baixa de Cassanje em Malange em 1961, considerada como um marco para o início da luta pela independência.
Rui Mingas nunca será esquecido, pois teremos sempre as suas músicas para recordá-lo, mas ficamos um pouco vazios porque o nosso tio da voz imponente e olhar acolhedor já cá não está. Adeus, Tio Rui, vai em paz.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.