A Adidas tem levado a cabo uma reestruturação na sua operação, com o corte de postos de trabalho na sede da marca desportiva alemã, em Herzogenaurach. A 15 de maio, o CEO, Bjoern Gulden, confirmou que o corte de empregos “está a dois terços do caminho”, conforme citado pela agência noticiosa Reuters.
Em janeiro, foi reportado por meios de comunicação social, como a Reuters e a CNBC, que a marca desportiva estava a planear cortar 500 postos de trabalho em Herzogenaurach, numa força de trabalho total, nessa sede, de 5.800 pessoas.
Com este processo de reestruturação organizacional a ficar perto do seu fim, como fica a competitividade da Adidas no setor? Os analistas consultados pelo Jornal Económico (JE) consideram que a medida levada a cabo pela marca germânica pode levar à redução de custos operacionais, impulsionando a melhoria das margens de lucro e da produtividade.
Analistas destacam a possibilidade de aumento nas margens e na produtividade
O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, refere, ao JE, que os despedimentos, que na ótica da Adidas estão focados na “melhoria da eficiência”, evidenciam um “sinal de disciplina financeira e compromisso com a rentabilidade”, algo que, segundo o economista, “tende a ser bem-recebido” pelos investidores.
“A eliminação de funções redundantes e a aposta numa estrutura mais ágil e eficiente podem reduzir custos operacionais e melhorar as margens de lucro no médio prazo”, destaca Paulo Monteiro Rosa.
O economista sénior do Banco Carregosa diz ainda que a redução dos postos de trabalho na empresa pode também significar que a Adidas enfrenta “desafios internos que exigem reorganização”, o que pode “levantar preocupações quanto à estabilidade da gestão ou à execução da sua estratégia”.
Contudo, Paulo Monteiro Rosa diz que a “comunicação clara” do CEO da marca desportiva, Bjoern Gulden, e o enquadramento destes despedimentos “numa estratégia mais ampla de recuperação e foco nos pilares fundamentais (produto, marca e consumidor)” podem reforçar a confiança dos mercados.
Para o analista da XTB, Vítor Madeira, os despedimentos que a marca tem levado a cabo podem ter várias interpretações. Vítor Madeira diz que a medida, do ponto de vista da redução de custos, “pode ser benéfica” para a empresa, ao permitir a “eliminação de colaboradores menos produtivos e, consequentemente, a diminuição das despesas operacionais”. O analista da XTB considera que, em termos de eficiência, “é possível que a empresa consiga manter ou até aumentar a produtividade com uma estrutura mais enxuta”.
O analista da XTB sublinha que, se tivermos em conta o panorama tecnológico, na lógica de uma maior automação do trabalho, tal pode justificar as mudanças que têm sido levadas a cabo pela Adidas.
Vítor Madeira acrescenta que outra possibilidade que pode justificar a redução dos postos de trabalho é o “abrandamento da procura”. Para Vítor Madeira, esse cenário “pode forçar uma reestruturação para se adaptar às novas condições” do mercado.
“A sua principal concorrente, por exemplo, a Nike, tem enfrentado dificuldades, com uma queda notória na procura. Uma situação semelhante poderá estar a afetar a Adidas, ainda que de forma menos intensa, especialmente com o crescimento de marcas concorrentes de menor dimensão, que estão a ganhar quota de mercado em nichos específicos do setor desportivo”, explica Vítor Madeira.
Postos estes cenários, o analista da XTB sublinha que a performance da empresa nos mercados financeiros continua abaixo do seu índice de referência. “A empresa continua a mostrar uma performance um pouco abaixo do seu índice de referência, e as suas métricas financeiras têm sofrido deterioração ao longo dos últimos anos, razão pela qual o DAX (índice alemão) já está em máximos históricos e a Adidas ainda se encontra bastante longe”, sublinha Vítor Madeira.
O DAX, desde o início do ano (a 28 de maio), já subiu 20,6% e, num ano, valorizou 29,3%, enquanto que as ações da Adidas perderam 7% desde o início do ano e estão a descer 1% no último ano.
Adidas viu receitas subirem 13%
Os resultados do primeiro trimestre apontaram para um crescimento de 13% nas receitas da marca desportiva, face ao período homólogo. Nesse período, a Adidas teve receitas de 6,1 mil milhões de euros, comparadas com os 5,4 mil milhões de euros do ano anterior. O lucro bruto subiu 14,6%, dos 2,7 para os 3,2 mil milhões de euros, enquanto que o lucro operacional cresceu 81,7%, passando de 336 milhões para 610 milhões de euros. O lucro líquido aumentou 152,4%, de 170 para 429 milhões de euros.
Em termos de vendas, e por mercados, a Europa subiu 14,6%, a América do Norte teve um crescimento de 5,5%, e a China registou um incremento de 14,7%. Os mercados emergentes subiram 22,3%, a América Latina cresceu 13,5%, e o Japão e Coreia do Sul subiram 10,2%.
Em 2024, no setor de sportswear, a Nike liderava com uma quota de 14,1%, face aos 15,2% do ano anterior, seguida pela Adidas com 8,9%, em comparação com os 8,2% de 2023. A Puma tinha uma posição de 3,3%, face aos 3,4% do ano passado, a New Balance tinha uma quota de mercado de 3%, em comparação com os 2,6% de 2023, e a fechar o top 5 estava a On com uma quota de 1%, face aos 0,8% de 2023, enquanto a Hoka tinha uma quota de 0,9%, em comparação com os 0,7% de 2023, de acordo com os dados da GlobalData, divulgados pela Reuters.
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