É certo e sabido que os renovados movimentos populistas têm engrossado as fileiras de eleitores, quer na Europa, quer noutros pontos do planeta. Assim, aqui e ali explicações para estas alterações têm vindo a ser apontadas por especialistas em eleições, movimentos sociais e outros cientistas sociais. Contudo há, ainda muito para ser explicado no que diz respeito aos populismos dos nossos dias, as suas razões e eventuais consequências.

Das ideias que têm gerado possíveis explicações para o apoio, por parte dos eleitores, destes movimentos e candidatos de cariz populista, parte elas baseia-se na ideia de que os primeiros são pouco informados, pouco sofisticados e votam sob a forma de protesto em relação à situação actual e às situações vividas nos últimos tempos.

Todavia, esta ideia é uma assunção que não tem que ser necessariamente verdade. E é, na minha opinião, importante procurar entender as raízes desta realidade para que, como eu acredito, se possa combater a mesma.

Muito recentemente, foi publicado na revista científica “West European Politics” um artigo de van Kessel e co-autores – intitulado “Informed, uninformed or misinformed? A cross-national analysis of populist party supporters across European democracies” – que nos ajuda a perceber melhor o fenómeno.

Os autores questionam o nível de informação e de desinformação dos eleitores e, também, investigam o papel das fake news nesta dinâmica informacional. Isto é, de que forma ter acesso a informação que é factualmente errada pode contribuir para a informação/desinformação dos eleitores sobre políticos e movimentos políticos de cariz populista.

Van Kessel e colegas descortinam que quando os eleitores têm acesso a informação política real e correcta há uma maior probabilidade destes eleitores de participarem em eleições, lato sensu. Esta participação é maior para os eleitores de movimentos/partidos populistas e não populistas. Os resultados foram atingidos com base na utilização de dados de nove países europeus onde foram aplicados questionários relacionados com estas temáticas.

Ou seja, ficamos a saber que melhor informação política ajuda a um aumento da participação política. Contudo, a direcção dessa participação, ou seja, se é no sentido dos populistas ou não, não é assim tão simples de constatar em geral. Mas os autores descobrem que, no que respeita ao acesso de fake news, ou seja desinformação, a direcção do sentido de voto é que a mesma esteja relacionada com apoio de partidos populistas de direita.

Isto quer dizer que se tivermos acesso a fake news no dia-a-dia vamos todos votar em partidos de extrema-direita populistas? Não, não quer. Mas devemos estar atentos ao que lemos, questionarmos as suas fontes e pensarmos efectivamente como se traduzem todas estas implicações. Já o sabíamos, não é verdade? Mas agora está provado.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.