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África é a arena da competição nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia

A Cimeira da Energia Nuclear EUA-África, que teve início esta terça-feira em Nairóbi, é mais um esforço para ganhar o continente para a influência ocidental. Mas a concorrência russa é feroz, nomeadamente através da ‘detestada’ Rosatom.
FILE PHOTO – Clouds are seen over the cooling tower of the nuclear power plant Isar 2 by the river Isar amid the energy crisis caused by Russia’s invasion of Ukraine, in Eschenbach near Landshut, Germany, August 1, 2022. REUTERS/Ayhan Uyanik
27 Agosto 2024, 18h46

A Cimeira da Energia Nuclear EUA-África, que teve início esta terça-feira em Nairóbi, no Quénia, e durará quatro dias, é mais uma tentativa de aproximar os países africanos da agenda américo-europeia em termos do assunto – mas o continente está também sob o radar da Rússia. Os especialistas afirmam que os Estados Unidos e a Rússia estão a procurar aumentar a sua influência no nascente mercado africano de energia nuclear, à medida que mais países daquele continente aderem àquele tipo de energia.

Muitos desses países têm em vista o ano de 2030 como data de início para a geração de energia nuclear. A África do Sul é atualmente o único país com centrais nucleares no continente, mas a lista da ‘concorrência’ é grande: Egipto, Gana, Quénia, Marrocos, Nigéria, Ruanda, Tanzânia e Uganda fazem parte dela, segundo avançam especialistas citados pelo jornal “The Star”.

Estados Unidos e Rússia estão a tentar diversos tipos de aproximações entre fóruns, cimeira, acordos e cedência de informação relevante. É neste quadro que acontece a cimeira do Quénia – a segunda edição, com foco na prontidão da indústria e no futuro da energia nuclear no continente. Os Estados Unidos esperam mostrar o sucesso da sua própria indústria nos últimos 70 anos e demonstrar como a indústria africana pode preparar-se para o desenvolvimento das centrais de energia nuclear.

“O foco será colocado na forma como as indústrias locais em África poderiam atingir benefícios semelhantes do desenvolvimento da energia nuclear aos conseguidos nos Estados Unidos “, promete a agenda da cimeira de quatro dias. Os trabalhos também contarão, como não podia deixar de ser, com uma sessão sobre financiamento e terminará com uma sessão especial dedicada a um acordo comercial EUA-Gana sobre energia nuclear. O acordo segue o que ficou definido na Plataforma de Negócios Nucleares da África em Acra, Gana, em maio. Ann Ganzer, vice-secretária de Estado adjunta dos EUA para Segurança Internacional, anunciou uma nova cooperação nuclear civil para apoiar o uso seguro da energia nuclear no Gana, incluindo o estabelecimento naquele país de um pequeno reator modular (SMR).

Mas a concorrência é feroz: a Rússia tem apoiado ativamente as ambições nucleares das nações africanas por meio de sua empresa estatal, a Rosatom, que tenta capturar uma parcela significativa do mercado africano. A Rússia assina memorandos de entendimento com governos africanos desde 2023, oferecendo soluções nucleares localizadas.

Durante a Atomexpo 2024 na Rússia, em março, a gigante energética russa Rosatom – Canadá, França, Japão, Reino Unido e Estados Unidos identificaram este conglomerado russo como um perigo para os seus interesses – reafirmou o seu compromisso de oferecer uma gama de soluções nucleares adaptadas às diversas necessidades de África, incluindo centrais de grande escala (NPP), centrais flutuantes (FNPP) e SMR. Dois meses depois, durante o evento em Acra, a empresa apresentou pequenas unidade nucleares flutuantes aos estados africanos como uma solução rápida e eficaz para as necessidades energéticas do continente.

No início de fevereiro, o CEO da Rosatom na África Central e Austral, Ryan Collyer, afirmou que o conglomerado esteve ativamente envolvido em vários projetos em todo o continente, com foco no desenvolvimento de infraestrutura, cooperações educacionais e transferências de tecnologia. “Foi dada atenção especial à perspetiva de lançar um projeto estratégico para construir uma central nuclear de baixa potência projetada pela Rússia no Mali”, anunciou a Rosatom em comunicado. A mesma empresa está atualmente a construir uma central nuclear (que custará 25 mil milhões de dólares) em El-Dabaa, no Egipto. A Rússia aumentou a cooperação atómica pacífica com países como o Burkina Faso, Burundi, Etiópia e Zimbábue.

De regresso à cimeira, que começou esta terça-feira, é a segunda grande convenção no continente desde a de Acra, organizada pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos em colaboração com o Instituto de Energia Nuclear da Comissão de Energia Atómica do Gana. Reunirá altos representantes do sector norte-americano para fornecer mais informações sobre a tecnologia, além de procurar possíveis acordos.

O CEO da Agência de Energia Nuclear, Justus Wabuyabo, disse que reunirá as principais autoridades, decisores de políticas, especialistas, técnicos e líderes da indústria do sector da energia nuclear dos Estados Unidos e da África. “A reunião é muito importante para nós”, escreveu, num texto publicado no jornal “Business Daily”. No final da cimeira, será feita uma ‘Declaração de Nairobi’.

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