A pandemia covid-19 alterou profundamente todas as nossas principais necessidades de mobilidade quotidianas. Apesar dos desafios que a pandemia trouxe quer na mobilidade de pessoas quer de carga, também veio acelerar comportamentos e tendências, que reafirmam o trajeto para uma mobilidade cada vez mais sustentável, conectada, partilhada e autónoma.

 

(i) Sustentável
O investimento em infraestruturas de carregamento deverá acompanhar o aumento de procura por veículos elétricos, para um processo de carregamento tão transparente para os utilizadores como o atual processo de abastecimento de combustível (e.g., disponibilização dos preços em EUR/kWh, facilidades de pagamento eletrónico). No entanto, apesar das vantagens proporcionadas pela mobilidade elétrica, há ainda vários entraves à sua adoção em massa, nomeadamente a reduzida capilaridade da rede de carregamento elétrico, baixa autonomia média dos veículos, tempo elevado de carregamento e o preço inicial alto dos veículos. No futuro, a rede de carregamento dos veículos elétricos deverá aproveitar espaços como habitação e local de trabalho, espaços comerciais, diferentes hubs urbanos, ou infraestruturas rodoviárias em localidades mais remotas.

 

(ii) Conectada
A redução de latência do 5G, associada ao uso em massa de smartphones, pode trazer grandes benefícios para os vários ecossistemas de mobilidade. Por um lado, estas tecnologias conseguem interconectar os vários componentes e sistemas dos veículos. Por outro lado, ligam também os veículos a outros meios de transporte, infraestruturas rodoviárias e a outros sistemas. Com a conexão entre os meios de transporte individual, os meios de transporte público e as soluções de micro mobilidade, será possível aumentar a eficiência, personalização e intermodalidade da mobilidade urbana. A mobilidade conectada pressupõe a instalação de sensores em muitos destas diferentes tipologias de ativos. Efetivamente, a própria cidade será uma fonte de informação, comunicando em tempo real com os cidadãos e serviços.

 

(iii) Partilhada
Nos grandes centros urbanos, estima-se que os carros privados estejam parados 95% do tempo útil, uma significativa perda de eficiência dado o peso dos custos de manutenção no custo total de propriedade. A mobilidade partilhada nasceu a partir deste contexto, a que se soma a adoção universal do smartphone e a ubiquidade da internet. Através do smartphone, é possível ter acesso a qualquer meio de transporte, permitindo um uso optimizado e evitando os problemas logísticos e os custos que implicam ter carro numa grande cidade. A pandemia veio, de alguma forma, contribuir para o acentuar desta tendência, após um período de quebra associada ao receio dos utilizadores relativamente à higienização dos veículos.

 

(iv) Autónoma
O desenvolvimento de viaturas autónomas trará vários benefícios, tais como maior segurança para os passageiros, maior conveniência para pessoas deficientes ou não aptas a conduzir, a redução de acidentes rodoviários, uma menor perda de tempo no trânsito para os passageiros, e uma mais eficiente gestão do trânsito global. A disrupção do status quo do ecossistema de mobilidade será grande. Certamente, o uso em larga escala de carros autónomos e a consequente diminuição dos sinistros automóveis trarão grandes desafios para alguns stakeholders, e a necessidade de garantir a segurança informática e proteção de dados também poderão ser transformadas em novas oportunidades de negócio.

Os desafios futuros da mobilidade irão exigir um maior grau de cooperação entre os vários ecossistemas da mobilidade, e principalmente entre o sector público e o sector privado. Num período de elevada incerteza, é crítico as diferentes entidades construírem a sua própria visão sobre o futuro. Esta discussão torna-se ainda mais relevante dado a revolução esperada na mobilidade com a sua agenda sustentável, conectada, partilhada e autónoma, cujas necessidades de colaboração entre os diferentes ecossistemas a pandemia veio evidenciar.