A ideia de base subjacente às Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização mostra-se tremendamente poderosa e oportuna, podendo introduzir um importante elemento de mudança na forma como a política de competitividade é implementada no nosso país
Portugal encontra-se a ultimar o seu Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o período 2021-2026, cuja dotação global em subvenções ronda os 14 mil milhões de euros. O PRR visa a retoma do crescimento sustentável e inclusivo e está organizado em três dimensões estruturantes (resiliência, transição climática e transição digital), cada uma sustentada por três roteiros específicos.
O meu foco de hoje centra-se no Roteiro do Potencial Produtivo e Emprego, que constitui um dos três roteiros que formam a dimensão estruturante da resiliência, em particular na sua Reforma que respeita às Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização.
A escolha é justificada. As Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização correspondem, provavelmente, a uma das iniciativas mais estratégicas do PRR, pela capacidade que incorporam para impulsionar estruturalmente a valorização económica de conhecimento e de tecnologia no país, potenciando a competitividade da nossa indústria através de uma maior aproximação entre o sistema científico e tecnológico nacional, o tecido empresarial e outras entidades de base territorial.
Segundo o estabelecido no documento preliminar do PRR, as Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização visam a identificação e apoio de um número limitado de alianças de desenvolvimento industrial e tecnológico, de dimensão relevante, constituídas por consórcios de empresas, entidades do sistema científico e tecnológico, instituições de ensino superior e outras, em áreas estratégicas para acelerar a transformação estrutural da economia portuguesa. A implementação destas agendas contará com uma dotação orçamental de 930 milhões de euros.
Assumindo a forte seletividade que se pretende imprimir neste processo (número limitado de agendas), será muito importante aproveitar o momento para capitalizar todas as iniciativas coletivas relevantes que foram colocadas no terreno em Portugal na última década e meia (e.g. reconhecimento de clusters, estratégias de especialização inteligente, centros de interface, CoLABs), bem como estimular estrategicamente sinergias e fertilização cruzada entre atividades, setores e domínios tecnológicos.
A dupla transição em curso (digital e climática), a par da penetração crescente da Indústria 4.0 na economia, estão a desestruturar fortemente a forma como as atividades económicas se desenvolvem, alterando os seus fatores-chave de competitividade.
A ideia de base subjacente às Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização mostra-se, assim, tremendamente poderosa e oportuna, podendo introduzir um importante elemento de mudança na forma como a política de competitividade é implementada no nosso país, integrando o que frequentemente anda (indevidamente) desintegrado.
Claro está que o sucesso das Agendas Mobilizadoras para a Reindustrialização dependerá criticamente da sabedoria introduzida no processo da sua estruturação inicial. Garantido um bom ponto de partida, o país tem todas as condições para aproveitar esta oportunidade de ouro, colocando em marcha uma reindustrialização inteligente e bem-sucedida.