Há praticamente um ano iniciámos todos uma fase muito diferente das nossas vidas e das empresas. Umas, mais ligadas ao Turismo e à Restauração, sofreram impactos dilacerantes que só serão colmatados ninguém sabe bem quando. Outras, teoricamente menos fustigadas, também têm lutado e tentado atenuar as perdas provocadas pela pandemia.
Beneficiaram do lay-off simplificado ou conseguiram, simplesmente, evitá-lo a custo. Também há as que aproveitaram – e esta não é uma crítica, mas antes a constatação de que as empresas se adaptam às circunstâncias – e têm ganho com esta mudança significativa nas nossas vidas.
No geral, empresas e colaboradores mudaram. Aumentaram-se eficiências, com redução de custos com viagens, hotéis, frotas, entre outras despesas associadas, como eletricidade, papel, toners, água, e os m2 necessários para os escritórios. Do lado dos colaboradores, houve eficiências com o tempo no trânsito, custos de deslocação, refeições fora, entre outras. Ganharam, certamente, no tempo passado com a família.
Não vou discutir interpretações da lei sobre obrigatoriedade ou não de pagarem-se algumas contas porque não sou jurista. O que quero destacar são as empresas que, com mais ou menos esforços, garantiram que os seus colaboradores mantivessem os seus postos de trabalho e, muito importante, qualidade e condições de trabalho. As mesmas que acompanharam, mais do que nunca, os seus colaboradores com programas de apoio; que aproximaram ainda mais o contacto, tornando-o mais informal; que incentivaram o equilíbrio trabalho-família nestes meses de clausura que tanto nos desequilibraram; que trouxeram benefícios para as suas pessoas.
Agora que estamos quase a começar a desconfinar – e todos os cuidados continuam a ser poucos! – olhamos para trás e percebemos que fazemos parte, em muitos casos, acredito, de empresas que se preocupam e cuidam dos seus colaboradores; dos seus clientes e fornecedores; que não esqueceram, agora que tanto precisaram, as instituições sociais que já apoiavam.
São essas empresas que nos fazem sentir culpados – porque nos apoiam e vestimos a camisola – quando “só” trabalhámos 10 ou 12 horas para tentar ajudar a balancear tudo.
As mesmas que sabem e respeitam que o multitasking é complexo e imperfeito e que não conseguimos estar a 100% em tudo. Ou melhor, em nada: porque estamos em calls enquanto enviamos emails ou pedimos ajuda no chat da empresa; porque temos os filhos – também eles em casa! E frustrados – a pedirem ajuda ou apenas atenção. Nós sabemos disso e as (boas) empresas também. O respeito, assim como a dedicação, são mútuos. E foram-no nos últimos meses.
Não acredito em empresas perfeitas, mas sei que há empresas que trabalham diariamente para serem melhores, aprendendo com erros e decisões menos acertadas. Muitos colaboradores, aqueles “burgueses” onde me incluo, como escrevia alguém há umas semanas, que mantiveram emprego e alguma qualidade de trabalho e vida vão sair desta pandemia com uma certeza: a de que trabalham na empresa certa com as pessoas certas.
É, sem dúvida, nos momentos mais difíceis que percebemos onde está a família, os amigos e, claro, as nossas empresas que, mais do que nunca, devem ter um papel de membro do nosso núcleo e menos de mero empregador. Recentemente, lançámos uma campanha interna onde mostrámos porque é que “o que nos une é muito mais do que uma mera relação profissional”. Os resultados foram muito positivos.
No próximo dia 16 de março passa um ano sobre o primeiro confinamento e o início de uma verdadeira odisseia que, acredito, serviu para todos aprendermos e, também, melhorarmos enquanto pessoas e empresas.