No início do ano escrevia nesta coluna, “brincar com coisas sérias”, que o ano de 2025 tinha começado Fast and Furious. Guerras, tarifas, chantagens económicas e outros atentados à globalização. Chegados ao fim do primeiro semestre, continuamos a acelerar e de cintos apertados, e a pergunta que coloco é: agora vai ou não vai?
Lá no Norte global, os senhores da moral e dos direitos humanos seguem firmes nos negócios da morte, embolsando 5% do PIB como se fossem para vender a última inovação. Transparência? Só nos discursos de gala e nas cimeiras com tapete vermelho e catering de luxo.
Nos bastidores, o silêncio dos lobistas é ensurdecedor. Preferem usar a sua força de lóbi e de narrativa para vender riscos de negócios, sobretudo investimento embrulhados em relatórios com gráficos coloridos, para disfarçar o extractivismo por “parceria estratégica” nas Áfricas ou lá para o médio oriente. Discurso não falta, claro, desde que seja para vender o Continente e outras terras raras como um “desafio”, quando na verdade é uma das regiões onde há maior rentabilidade e se pode lucrar alto e pagar pouco.
Aqui pelas Áfricas, bem… algo começa a mudar, a paciência essa virtude pós-colonial, está a esgotar-se. No Summit África–EUA em Luanda, de 22 a 25 de junho, a nota afinada foi clara: parecerias verdadeiras são muito bem-vindas, pois estamos fartos de empréstimos que enriquecem pelo triplo a quem empresta, do que supostamente quem “recebe” devido às condições quase insustentáveis. A retórica de “ajuda” já não convence. As Áfricas continuam a ser consideradas “zona de risco” ou laboratórios de desenvolvimento, onde só os cientistas ganham prémios e o prémio de risco ajuda a encher bolsos.
E enquanto pelo Norte global as bombas e tarifas não param – algo estranho e potencialmente perigoso para a ordem estabelecida está a acontecer…. Devagarinho, com sotaques diferentes, mas objetivos parecidos as Áfricas começaram a conversar entre si. Sim! Sem tradução simultânea de Washington ou Bruxelas. A conversa é simples e directa: precisamos fazer com as nossas próprias forças!
O gigante está a acordar, e mesmo que ainda não corra maratonas, pelo menos já se mexe e a pergunta que não quer calar é: agora vai ou não vai?