A competitividade futura da nossa agricultura, no pós-pandemia de Covid-19, vai obrigar a uma refundação da nossa agroindústria e do nosso mundo agrícola.

Os novos desafios exigem objetivos e metas que avaliem os objetivos de política agrícola pública para uma maior equidade na repartição dos apoios aos produtores agrícolas/regiões, uma gestão mais sustentável dos recursos naturais e uma contribuição positiva para a neutralidade carbónica e para a coesão económica e social dos territórios rurais.

Para além disso, vai ser preciso dentro do âmbito político para Portugal, eleger prioridades, fazer escolhas e avaliações – o mundo do politicamente correto, deixar andar, dar tudo (ou pouco) a todos, o mundo perfeito acabou.

Insistir em estratégias ineficientes e ineficazes ou em apoios ao investimento em produções e culturas onde já se provou que não somos competitivos ou não temos aptidão de solos e climas, é um erro que não podemos continuar a cometer. A nossa margem de erro também acabou. Temos de criar riqueza nas agriculturas de Portugal!

Temos de ser assertivos e resilientes na nossa capacidade produtiva instalada e temos de obter uma maior contribuição das fileiras mais inovadoras, mais competitivas e melhor geridas para atingir o autoabastecimento e seguranças alimentares.

É por isso surpreendente que reputadas e ilustres personalidades como o Prof. Francisco Avillez, um dos principais pensadores das agriculturas de Portugal, num artigo com o título “A reforma da PAC no Rescaldo da Pandemia” e o Prof. José Reis, no artigo “Tempo das alternativas: criar uma economia do cuidado”, se fiquem por meras estratégias de retórica mas não colocam objetivos e metas numéricas e, consequentemente, nenhum plano de ação.

Deixo aqui algumas dúvidas que gostaria de ver respondidas: que remuneração dos fatores de produção para obter uma agricultura sustentável; como fazer com que agricultores e empresas sejam capazes de gerar maior valor acrescentado?

Apresento as minhas respostas e as minhas opções: um choque de incorpóreo, objetivos claros para a sociedade portuguesa, em geral (e.g. manutenção do PIB per capita nos próximos dois anos, aumentá-lo em 30% nos três anos seguintes, incremento em 30% do valor acrescentado bruto nos próximos cinco anos, etc.) e para as agriculturas, em particular (primeira prioridade, quantificada em número e valores de investimento para instalação de jovens agricultores e outros agricultores que irão exercer a respetiva atividade em regiões muito deprimidas e a sua integração com a agroindústria e mercado).

Segunda prioridade, apoio ao investimento nas explorações agrícolas situadas em regiões muito deprimidas. Terceira prioridade, o apoio às pequenas explorações. Quarta prioridade, pacote financeiro robusto de apoio ao cooperativismo, novas cooperativas e melhoria das existentes. Quinta prioridade, restantes explorações com prioridade nos apoios ao investimento sobre as ajudas ao rendimento.

Todos estes apoios serão dados a quem aceitar cumprir as seguintes regras: integração em cooperativas ou OP reconhecidas, frequência de ações de formação profissional, assim como praticar modos de agricultura sustentáveis com incorporação de metodologias de agricultura digital e de precisão.

Além disso, é necessário mais empresas e outras organizações públicas e privadas com melhor gestão, maior rigor e disciplina na abordagem aos pormenores, compromisso no cumprimento de objetivos e prazos, quer ao nível coletivo, quer ao nível individual, (e.g. o cumprimento dos prazos legais para tramitação dos processos burocráticos, pagamentos nas datas contratualizadas, etc.).

O futuro que nos espera exigirá, também, qualificação e incremento das competências da mão de obra e dos empresários, tirando partido das tecnologias para fazer negócios geradores de riqueza, competitivos no mercado internacional.

Caro Prof. Francisco Avillez deixo-lhe aqui o desafio para que apresente publicamente o primeiro draft das orientações estratégicas concretas para o global das agriculturas de Portugal, a matriz do PEPAC (Plano Estratégico da PAC a submeter pelo Governo de Portugal à Comissão Europeia).

Pela minha parte pode contar com o contributo leal na exposição pública das ideias que são a defesa do interesse público de um Portugal mais desenvolvido, criador de riqueza ao longo de todo o território e equilibrado socialmente.