No último sábado, milhares saíram à rua em Barcelona em protesto contra o turismo massivo que estrangula a cidade. Não foram de todo originais, seguindo o que já se passara noutras localidades em maio e junho passados. E protestaram mesmo depois de Jaume Collboni, o presidente da Câmara, ter anunciado que iria pôr fim ao alojamento local até 2028.

Os barcelonenses revoltaram-se contra a gentrificação e a descaracterização da cidade, a incapacidade de comprarem uma casa consentânea com os seus salários e o desaparecimento do comércio local, substituído por lojas inúteis que oferecem souvenirs padronizados para turistas.

Por cá, têm-se sucedido críticas à transfiguração negativa de Lisboa, em grande parte como reação ao excelente artigo do “El País” «Lisboa se muere de êxito». Nuestros hermanos tiveram a coragem de dizer que “o rei vai nu”.  Mas, quiçá a ilusão de que qualquer um poderá ser o próximo empresário de sucesso no ramo, os lisboetas mantêm-se calmos, enquanto se vão paulatinamente convertendo nos estrangeiros da sua própria cidade.

O país insiste num modelo económico que não só não é sustentável (alguém já se esqueceu do confinamento?), como é um desastre para a qualidade de vida da população em geral.

A escolha é percetível – é uma via de saída fácil, com resultados imediatos no crescimento do PIB e do emprego. E contribui para o equilíbrio das contas externas. Só que, levado ao extremo, este modelo tem custos económicos e sociais muito elevados, no chamado efeito de U invertido, lado que se teima em esconder.

O turismo é uma atividade instável, tendendo por isso a criar empregos precários, enquanto paga maus salários e exige trabalhar fora de horas. Atrai sobretudo trabalhadores imigrantes, com menos rede e menor capacidade de reivindicação, enquanto dificulta a sua legalização nestas condições, como tem alertado a Organização Internacional do Trabalho.

Gera uma competição desenfreada por recursos que são usados no quotidiano, provocando o seu congestionamento e reduzindo o bem-estar da população local. Isto tem sido evidente na disputa pelo espaço para habitação, ou lazer, mas também nos efeitos sobre o ambiente – recorde-se o condicionamento do uso de água no Algarve dos campos de golfe.

Em Barcelona, a mensagem foi clara – há limites para o turismo, que têm de ser definidos hoje, sob pena de ser tarde demais. Lisboa escolherá aprender com a experiência de cidades irmãs ou esperar para sofrer com os seus erros?