1. As sanções da União Europeia (UE) contra a Rússia na sequência da invasão da Ucrânia estão a deixar os cidadãos angustiados por não perceberem o “quis” nesta história.
Bruxelas acaba de anunciar o sexto (!) pacote de sanções contra a Rússia e reforçou que este é o mais poderoso lançado até agora. Isto de ser um pacote com fortes medidas económicas e financeiras – e que inclui a saída do sistema Swift do maior banco da Rússia, o Sberbank que detém 35% da atividade bancária naquele país, ou seja, o banco fica isolado do sistema bancário internacional – tem o seu quê de estranho.
As sanções saem a prestações e o impacto, que deveria ser de choque, tem efeitos mínimos até porque não conhecemos a verdadeira realidade daquele país. O presidente da Ucrânia tem razão quanto está sempre a pedir mais.
Acontece que o mundo estava globalizado. O mesmo é dizer que todos dependíamos de todos e agora é preciso desfazer “casamentos”. Mais. Diz a UE que os chefes de Estado e governo dos 27 chegaram a acordo quanto ao embargo ao petróleo russo, algo que se aplica no final do ano (!). Isto é mais uma incongruência, pois estamos a meio do ano e ainda haverá muitos meses em que a Rússia vai receber milhões de euros todos os dias para financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
Segue-se o gás, algo mais difícil e que esbarra no facto de vários países da União não terem alternativa de abastecimento. Na prática, a Rússia continua a vender aos países ocidentais que não têm alternativa para abastecimento em termos energéticos.
A UE fala em reabilitar centrais nucleares que estavam prontas para serem desativadas e o relançamento do plano RePower UE e que mais não é do que a transição para um ecossistema de energias limpas e que, numa primeira fase, irá admitir a energia nuclear.
E a questão que se coloca relativamente à energia fóssil que os países ocidentais irão comprar menos, é perceber a quem é que a Rússia irá vender petróleo e gás a preço mais barato do que aquele que nos chega dos EUA ou de África. Possivelmente, iremos descobrir que irá parar a países que irão reabilitar indústrias pesadas e que necessitam de muita energia barata, sendo que esses mesmos países poderão fornecer matérias processados com bom preço aos países ocidentais, pois usam energia barata que a Europa não quer comprar à Rússia.
Temos uma “pescadinha de rabo na boca” em que não compramos matérias-primas energéticas, mas compramos produtos manufaturados com essas energias. Possivelmente, será um tempo de importações tóxicas.
2. Os políticos estão confiantes na economia portuguesa porque é a que cresce mais na UE, mas será mesmo assim? A “Nota de Conjuntura” do Fórum da Competitividade faz notar que a Comissão Europeia terá um crescimento do Produto Interno de 4,4% em termos médios para o período de 2019 a 2023 e isso são apenas mais 0,2 décimas de ponto percentual que a média da União Europeia.
Alerta-se no documento que isto não é convergência já que com este diferencial atingiríamos os nossos parceiros europeus dentro de 500 anos! Lembram os analistas no mesmo documento que as exportações estão a subir para 42% do PIB – número do primeiro trimestre de 2022 – mas ainda se está abaixo de 2019, quando as exportações atingiram 43,2% do PIB em termos de quota.
3. A saída do Porto da Associação Nacional de Municípios, a que se seguirão outras cidades, é algo avassalador porque significa que a descentralização administrativa está muito longe do consenso. E isto também significa que discutir a regionalização é como começar a casa pelo telhado.