As crises económicas e políticas da Alemanha e da França atuais, embora sejam manifestações das dificuldades particulares de cada um dos países, não deixam de constituir uma expressão mais geral da organização e funcionamento atual das instituições da União Europeia e da Zona Euro, mais especificamente.

Longe vão os tempos da euforia da integração europeia, associada aos projetos de constituição do Mercado Único, da criação da União Económica e Monetária e da introdução do euro.

As décadas de 80 e 90 do século passado foram, sem dúvida, um período notável de progressos na integração económica que antecipavam novos e mais vastos desenvolvimentos, designadamente em direção ao aprofundamento da integração política. As próprias instituições políticas europeias evoluíram nesta perspetiva que se pensava poder vir a ser concretizada num prazo não muito distante.

Todavia, um acontecimento inesperado veio subverter completamente esta perspetiva e gerar uma alteração radical de estratégia que hoje, passadas três décadas, é legitimo questionar em termos da sua clarividência — estamos a falar da implosão do bloco soviético e da prioridade que passou a ser dada ao alargamento aos países do centro e do leste da Europa em detrimento do aprofundamento da integração do bloco ocidental, já constituído, que a introdução de uma moeda única exigiria.

Esta mudança de prioridades e a evolução que, entretanto, se produziu, conduziu a uma mudança na dinâmica da construção europeia, favorecendo sobretudo o papel da Alemanha em detrimento da França e de outros países, incluindo Portugal, que não deixou de ser afetado no seu processo de convergência pela concorrência gerada pela entrada de novos países, mais qualificados, mais baratos e mais atrativos, seja em termos de mercado de trabalho, seja em termos de investimento e de proximidade do centro económico.

Olhando em perspetiva, não é difícil ver que a Alemanha foi o principal beneficiário de todo este novo desenvolvimento do processo de integração europeia, assegurando novas condições de investimento, novos mercados, energia barata e competitividade interna e internacional, proporcionada por um euro subvalorizado face ao que teria sido a manutenção do marco. Em contrapartida, outros países, em particular a França, não conseguiram tirar o mesmo partido da nova situação, incluindo no plano da sua indústria energética nuclear. A própria saída do Reino Unido da União Europeia e a sua reorientação estratégica para o mundo anglo-saxónico, não será alheia a esta alteração da relação de forças e de visão estratégica no seio da União Europeia.

O ano de 2025 vai trazer, seguramente — e não apenas em resultado da assunção de funções por Donald Trump —, novas dinâmicas às relações europeias e internacionais a que a Europa, no seu conjunto, se quiser continuar a existir como projeto comum de desenvolvimento económico e de referência democrática para o Mundo, vai ter de dar resposta.

Em primeiro lugar, vai ter de encontrar o seu próprio lugar no contexto das transformações em curso e da alteração da correlação de forças que se está a produzir à escala global. E, nesta perspetiva, é fundamental recuperar uma dinâmica de produção de interesse comum e de identidade própria que lhe tem faltado, em larga medida, nos últimos tempos.

Mas, também, é fundamental fazer progressos no plano da arquitetura institucional e do funcionamento das suas estruturas fundamentais, substituindo a cultura instalada de produção de burocracia e de procrastinação (para utilizar o termo do Relatório Draghi) por uma cultura de inovação, de simplificação e de orientação pragmática para a resolução dos problemas, dependências e constrangimentos. E é, sobretudo, necessário avançar no plano da política económica integrada e na introdução, concomitante, de uma visão estratégica, onde se inclui o desenvolvimento tecnológico e as qualificações adequadas, a sustentabilidade energética e o abastecimento de matérias-primas.

Feliz Natal e Bom Ano Novo!