Estamos a cerca de um mês da data redefinida como o brexit day. Como a política britânica nos tem habituado nos últimos tempos, tudo o que podemos fazer é aguardar já que quase todos os dias os acontecimentos inesperados, nesta saga hollywoodesca, nos adensam as incertezas sobre o futuro. Neste momento, com a suspensão do parlamento britânico, as instituições parecem-me comprometidas numa teia de razões estratégicas dos actores em palco. Mas, tudo isto, terá como motivação algo um pouco mais comezinho do que o interesse nos destinos conjuntos do Reino Unido, ainda que as possíveis e destrutoras consequências para a união do mesmo sejam muito elevadas. O destino de Boris Johnson, do facto de ter mentido à Rainha, o estado do seu partido, e, por consequência os destinos do partido trabalhista e do seu líder, necessariamente estão ligados. Assim, estamos aqui (e uma vez mais) perante um claro caso de uma luta político-partidária interna com impactos nacionais e internacionais ainda por compreender e avaliar.
Na verdade, as possibilidades de haver eleições na terra de Sua Majestade adensam-se e devem ocorrer após o dia 31 de Outubro. Assim, o jogo de luta por votos já se iniciou e várias especulações podem ser feitas nesse sentido. Se se pode esperar, de acordo com várias projecções feitas nas últimas semanas, que os conservadores ganharão a maioria dos 650 mandatos, próximo dos 50%, não podemos prever exactamente como a transferência de votos, e o chamado voto útil, irá ocorrer. Os partidos políticos são instituições dinâmicas e de cariz estratégico, pelo que, poderão avançar com variadas acções e optar por distintos caminhos, e claro, os eleitores poderão fazer o mesmo de acordo com os seus cálculos. Por exemplo, os liberais poderão votar nos trabalhistas em alguns locais o que pode contribuir para um aumento exponencial da possibilidade de eleger deputados por parte dos segundos, e deixando em “maus lençóis” os conservadores. Dependendo de como tal ocorra, se assim for, isso pode, por exemplo, fazer com que os trabalhistas garantam um governo minoritário (ainda que tal seja bastante pouco provável, mas possível). Por outro lado, ainda não é claro que os conservadores não consigam retirar votos a Farage, ou vice-versa. As últimas eleições europeias geraram resultados que podem confundir as nossas percepções sobre possíveis cenários, ainda que ambas sejam eleições de ordem diferente. Mas independentemente dos cálculos feitos pelos eleitores e previamente dos líderes partidários no Reino Unido, vamos ter tudo menos um Outono e um Inverno frios, e, eu ainda nem vos falei das próximas eleições legislativas em Portugal.