Uma semana depois, a tragédia também bateu à nossa porta, tendo alguns opositores do Governo vindo criticar António Costa por não ter feito o mesmo.

O tema é sensível e aconselha prudência no que a aproveitamentos políticos diz respeito. Desde logo, o paralelismo com o que se passou em Londres não é feliz. Ao contrário do que sucede por cá, no Reino Unido não se discutiu a questão de o Estado ter tido responsabilidade no incêndio nem na forma como o combateu. A questão da parca capacidade de resposta colocou-se sobretudo ao nível do apoio a famílias desalojadas. E foi a estas que Theresa May pediu desculpa, por não lhes ter dado um novo tecto tão prontamente quanto deveria. É naturalmente diferente assumir responsabilidade por isto do que por vidas humanas que se perderam num trágico incêndio, quando a responsabilidade ainda não está apurada. Assim, até poderá compreender-se que, até que se perceba exactamente o que se passou e se apurem responsabilidades, o Governo não as assuma. Mas é esta a atitude devida? Claramente que não.

Por um lado, há determinados tempos para tomar determinadas atitudes. A palavra aos sobreviventes e às famílias das vítimas era devida na altura da tragédia, não daqui a meses ou anos quando uma entidade, que ainda não foi incumbida da missão, apresentar conclusões de um inquérito que ainda não iniciou. Compreende-se que o Governo quis fugir ao jogo político dos opositores que lhe pretendem assacar responsabilidades. No entanto, além de ser uma atitude devida às famílias das vítimas, seria até politicamente a mais adequada, dado que, se feita nos moldes certos, esvaziaria o balão de ar dos que pretenderam tirar partido político da tragédia.

Por outro lado, esta era também a atitude devida porque à luz das circunstâncias para já conhecidas, tudo indica que o Estado poderia ter feito mais e melhor para evitar a tragédia ou mitigar os seus efeitos. Embora não me sinta habilitado a opinar tecnicamente sobre a matéria, não parece necessário ser especialista para intuir que entre o aparente irregular funcionamento do Siresp, as falhas da Proteção Civil, e algumas decisões tomadas pela cadeia de comando da GNR e dos bombeiros, algo não terá corrido bem. Seria, pois, surpreendente, se a conclusão da investigação ao que se passou acabasse por ser a de que causas naturais originaram um incêndio que foi detetado e combatido tão cedo e tão eficazmente quanto é suposto, e ainda assim, resultou na conhecida tragédia. Assim, parece que é uma questão de tempo até que a responsabilidade tenha que ser assumida.

Uma palavra final para a investigação que terá lugar. Era bom que, desta vez, e atenta a dimensão da tragédia, o assunto fosse tratado de forma séria de modo a identificar o que correu mal e a evitar que se repita. Por isso, mais do que encarregar uma comissão parlamentar, sujeita a negociações e equilíbrios partidários, ou o Governo, que poderá não se querer autorresponsabilizar, fica a ideia de se criar uma comissão técnica independente, imune a pressões seja de onde forem, com várias especialidades e com um calendário pré-definido para apresentar conclusões. Só assim, teremos a análise isenta e construtiva que nos é devida.