Como sofrem jornalistas e comentadores com a greve dos motoristas de matérias perigosa (MMP). Uma epidemia ataca vários quadrantes políticos e ideológicos. Ouve-se um ranger de dentes perante o “isolamento” do Pardal & Cia.. Que gente tão solidária com as greves e as lutas dos trabalhadores! Que clamores ecoam nas estações de serviço. Um Governo de “esquerda” é capaz de tal coisa? Não é possível… E os comunistas por onde andam, que ninguém os vê. Demitiram-se! Ao que isto chegou.

Parafraseando alguém: “santa hipocrisia que tão grande és, que vais da cabeça aos pés”! Mas maior, é a sanha anticomunista e o ódio de classe ao sindicalismo e à luta dos trabalhadores. Quem é esta gente que tão bem discursa e chora baba e ranho pelos MMP?

Os que aplaudiram Gonelha e a sua vontade de “quebrar a espinha à Intersindical”, e aprovaram sem rebuços o fim do desconto patronal para os sindicatos. Os que “inventaram” e pagaram a UGT, e tudo apostaram no divisionismo sindical, reproduzindo sindicatos amarelos atrás de sindicatos amarelos.

Os que tentaram boicotar greves gerais e aplaudiram todos os acordos anti-laborais com o patronato na concertação e na desconcertação. Os que aprovaram e louvaram a precariedade e toda a fragilização do edifício da legislação laboral, reduzindo à ínfima espécie a contratação colectiva, subvertendo o princípio constitucional de defesa da parte mais fraca, o trabalhador.

Os que na comunicação social movem há mais de 40 anos uma campanha insidiosa, caluniosa, brutal de descrédito do Movimento Sindical Unitário. Os que massacram diariamente nos media dirigentes sindicais, que fieis aos mandatos outorgados democraticamente pelos trabalhadores não desistem de defender os seus interesses.

Os que nunca enxergam as suas lutas e acções, por maiores que sejam, mas capazes de empolar, inflacionar, até ao paroxismo, qualquer traque de pulga ou pulgão, desde que o avaliem isento de contaminação comunista ou sindicalismo de classe. Oh que belo rancho, o dos defensores da greve e do sindicalismo dos MMP. “Deus não é feirão mas ajunta o gado”!

Encontram-se os que há meses viam na luta da Autoeuropa o fim da economia nacional, muito críticos das organizações (sindical e CT) que as dirigiam. Os que há muito insistem na calúnia dos privilégios dos trabalhadores do sector público face aos privados e na promoção da sua divisão. Os radicais maoístas ML, de “fachada socialista” do PREC, agora reconvertidos ao sindicalismo “independente”, hoje como ontem, anticomunistas acima de tudo. Os novos pregadores do (neo)liberalismo salvador da pátria.

Está a direita desnorteada do PSD e CDS, a fazer de conta que apoia mas sem dar nas vistas. Estão naturalmente os sociais-democratas criadores com a direita desse monumento ao sindicalismo “independente” que é a UGT! Não é fácil escolher.

Fiquemos com Vicente Jorge Silva, o “radical pequeno-burguês de fachada socialista”, maoista encartado ainda antes do 25 de Abril, coerente no anticomunismo. Com altas responsabilidades no Expresso e Público, sempre produziu diatribes poderosas contra a subversão das leis laborais, pelo PS, PSD e CDS, reclama agora, a propósito dos MMP: “Precisamos de uma «task force» para (…) evitar que o mundo laboral – exceptuando porventura a função pública – continue em grande parte marginalizado nos seus direitos essenciais” (“Público”, 18AGO19). Notável!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.