Este texto foi publicado originalmente no suplemento “Quem é Quem no Setor Financeiro”, que integrou o Jornal Económico de 26 de fevereiro de 2021.

 

As moratórias têm sido uma importante ferramenta de apoio à liquidez das famílias e das empresas para melhor enfrentarem os efeitos económicos de uma pandemia que ninguém antecipava. Por isso mesmo, ainda antes da sua obrigatoriedade legal, o Bankinter foi dos primeiros bancos a disponibilizar este instrumento aos seus clientes.

No entanto, as moratórias foram decididas e desenhadas num contexto onde ainda não se antecipava que pudesse haver um segundo confinamento geral e onde se partia do principio que 2021 seria já um ano de recuperação económica, o que muito provavelmente não se verificará até porque algumas estimativas apontam já para 2023 como o ano da recuperação total do PIB para níveis pré-pandémicos.

Assim, é provável que o impacto deste novo confinamento sobre a economia venha a ser mais gravoso do que aquilo que se pensou inicialmente, o que levará certamente a um aumento do risco de incumprimento.

Neste contexto, talvez seja prudente começar a pensar que, após o término das atuais moratórias em setembro, algumas medidas adicionais terão de ser tomadas de forma a proteger as famílias e as empresas que estejam ainda a ser particularmente afetadas pelos efeitos económicos da pandemia.

A extensão das moratórias para os sectores económicos e para as famílias mais atingidas pode ser uma solução, num contexto de maior seletividade e dependente de uma flexibilização do quadro prudencial e contabilístico a validar pela EBA (Autoridade Bancária Europeia).

A par desta eventual flexibilização ao nível das moratórias será igualmente necessário avançar com o lançamento de medidas de apoio à recapitalização das empresas.

O efeito prolongado das restrições económicas associadas aos confinamentos totais, poderão ter provocado, para muitas empresas, um problema de solvabilidade que importa avaliar e atenuar com o recurso a medidas de capital e quase capital.

Da nossa parte, temos acompanhado em permanência os clientes e, em situações muito específicas, poderemos recorrer a renegociação dos créditos ou aumento da extensão das moratórias. Aliás, o Bankinter tem um dos rácios de morosidade mais baixos do sector, muito em virtude da proximidade com os clientes e da robustez da nossa análise de risco.

Relativamente ao risco sistémico, nos últimos anos a Banca tem evoluído positivamente ao nível de liquidez e solvabilidade e reforçou bastante o nível de provisões realizadas pelo que diria que está genericamente mais bem preparada para o momento que estamos a atravessar. Sendo certo que ainda desconhecemos os efeitos totais deste segundo confinamento na economia, não creio, no entanto, que cheguemos a uma crise de crédito.