A extrema-direita do AfD terminou claramente em primeiro lugar nas eleições para o governo regional na Turíngia e, na Saxónia, ficou apenas atrás da CDU – tornando-se a força política dominante no leste da Alemanha – o território onde em tempos existiu a República Democrática da Alemanha. Apesar de todos os escândalos, apesar de ‘colecionar’ candidatos ‘estranhos’ (como Bjorn Hocke, na Turíngia), os extremistas parecem imparáveis – e, segundo todas as previsões, dentro de três semanas haverá uma confirmação nas eleições em Brandemburgo.
Para além da confirmação do bom momento da extrema-direita, as eleições serviram ainda para mostrar que a extrema-esquerda também continua viva e que o SPD do chanceler Olaf Scholz nem por isso. Mas, uma vitória do AfD não quer necessariamente dizer que os extremistas vão chegar ao poder. Neste momento, todos fazem contas. A Turíngia – onde a vitória dos extremistas foi mais significativa, será mais difícil rodear o problema.
Os jornais germânicos afirmam que o AfD deve atingir 33,5% dos votos no Estado da Turíngia, confortavelmente à frente dos 24,5% dos conservadores. No vizinho Estado da Saxónia, os conservadores lideram com 32%, apenas meio ponto percentual à frente do AfD. A populista de esquerda Sahra Wagenknecht Alliance (BSW), que, como o AfD, exige controlos mais rígidos sobre a imigração e quer que a Alemanha acabe com o envio de armas para a Ucrânia, ficará em terceiro lugar em ambos os Estados, referem as mesmas fontes, embora tenha tido um desempenho significativamente inferior ao que estava previsto nas sondagens anteriores.
À hora do fecho desta edição, as contas eram as seguintes: CDU, BSW e SPD podem não ter margem suficiente para governa. De acordo com os números mais atuais, os três partidos têm 44 lugares no parlamento estadual de Erfurt – um lugar a menos que a maioria absoluta. A CDU recorda que a região está em eleições depois de cinco anos de governo minoritário liderado pela esquerda do Die Link (com o SPD e os Verdes) – mas, para já, está tudo em aberto.
Na Saxónia, parece não haver grandes dúvidas que a CDU conseguirá governar – nem que para isso tenha de fechar uma coligação.
De qualquer modo, os analistas chamam a atenção para o facto de que, mesmo que o AFD não consiga eleger um chefe de governo regional em nenhum dos três estados, fica claro que a sua influência no futuro será ainda maior.
Os comentadores também se mostram admirados com a força da extrema-esquerda. Sahra Wagenknecht conseguiu transformar a sua aliança, que é tão difícil de entender do ponto de vista programático, numa força política na Alemanha Oriental – e possivelmente saltar diretamente para a participação no governo: para evitar o AfD na Turíngia, os tradicionais CDU e SPD terão de contar com eles. O BSW encontrou um público recetivo nos Estados do leste às críticas ao governo da federação e à ajuda militar à Ucrânia. Fundado apenas em janeiro por Sahra Wagenknecht (que abandonou o Die Linke), o BSW faz uma estranha mistura entre pormenores de esquerda e de direita – o que foi do agrado de muitos germânicos.
O facto é que, nota o jornal “Spiegel”, está a tornar-se cada vez mais complicado para os partidos tradicionais formar coligações contra o AfD , o que já era evidente após a última eleição estadual na Turíngia. Mas agora, com o BSW, um novo ator político está em jogo, o que torna tudo ainda mais difícil. A CDU pode, portanto, estar satisfeita com o facto de ter aparentemente conseguido manter-se um pouco à frente do AfD na Saxónia e ter terminado em segundo lugar na Turíngia. Mas, para poder fornecer um chefe de governo regional, terá de formar uma coligação com a aliança com Sahra Wagenknecht na Turíngia – se for suficiente para uma maioria – e na Saxónia também.
Os partidos que formam a coligação federal (SPD, Verdes e Liberais) tinham perdido a esperança, há semanas, de voltar aos parlamentos estaduais da Saxónia e da Turíngia. Mas, no final da contagem, talvez o ‘drama’ não seja tão profundo. De qualquer modo, é consensual entre os analistas que estas eleições são um sinal claro de que Olaf Scholz tem um problema grave entre mãos. Juntos, os três grupos atingiram, na Turíngia e na Saxônia, apenas cerca de 15%. “Este é um sinal devastador para o governo alemão, porque mostra que o apoio à coligação e às suas políticas continua a diminuir no leste da Alemanha, bem como em todo o país”, refere um analista citado pelo “Spiegel”.
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