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Alemanha: Fracas perspetivas económicas marcam novo ciclo

O novo governo alemão terá pela frente “a árdua tarefa de injetar crescimento nos seus setores e nas exportações”. E as dúvidas sobre essa capacidade são muitas.
Lisi Niesner/reuters
5 Março 2025, 10h50

O próximo governo da Alemanha “terá pela frente a árdua tarefa de manter um crescimento positivo. É impossível compreender o estado atual da economia alemã. Em 2024, as exportações caíram 0,7% e o investimento fixo 2,7%”, refere um research da Crédito y Caución.

As exportações contraíram pelo segundo ano consecutivo, após fracos resultados nos setores de equipamento elétrico, maquinaria e automóvel. A Crédito y Caución prevê que o PIB da Alemanha cresça 0,4% em 2025, um pequeno alívio após as contrações de 2023 e 2024, mas mesmo esta pequena recuperação não está garantida.

A seguradora de crédito espera que a indústria automóvel alemã cresça no máximo 2% em 2025, após uma contração de 4% em 2024. A produção da construção estabilizará após uma queda de 3% em 2024. É improvável que o setor de máquinas saia do território negativo, após uma queda de quase 6% no ano passado. O impacto das tarifas recentemente impostas pelos EUA sobre as exportações alemãs de aço e alumínio será modesto, mas há uma grande possibilidade de tarifas gerais sobre a União Europeia.

“O setor exportador já estava com dificuldades, mas a eleição do presidente Trump nos Estados Unidos pode ter agravado a situação. Os exportadores enfrentam uma perspetiva cada vez mais sombria, à medida que o presidente Trump ameaça com tarifas contra a União Europeia e, em particular, as exportações de automóveis alemães. Isso pode ser suficiente para arrastar a economia alemã para um crescimento zero, num momento em que os fabricantes alemães lutam por competir com produtos chineses mais baratos no mercado global”, explica Theo Smid, economista da Atradius. “Esperamos que a economia enfrente dificuldades este ano, com um pico de crescimento do PIB de 0,4%. Para 2026, prevemos uma expansão modesta de 0,8%, descontando tarifas gerais de 10% dos Estados Unidos sobre as importações da União Europeia. A incerteza continuará elevada”, acrescenta.

De acordo com o recente estudo realizado pela seguradora de crédito junto de 470 empresas, apenas 14% do tecido produtivo alemão espera que a economia melhore em 2025, bem abaixo dos 32% que esperam um agravamento. Este pessimismo é fácil de compreender: as insolvências de empresas alemãs aumentaram 24% em 2024. As empresas pedem à nova administração que se concentre em quatro questões: redução da burocracia (82%), custos energéticos (73%), fiscalidade (61%) e estabilidade política (54%).

Para impulsionar a economia, a nova administração terá de tomar decisões difíceis rapidamente, mas os prováveis parceiros de coligação têm opiniões opostas. Por exemplo, todas as partes apoiam uma maior redução dos custos energéticos, mas a transição para a energia verde é mais controversa. Parece cada vez mais provável que se efetive alguma forma de reforma do travão da dívida ou um novo instrumento extraorçamental para o contornar, embora os prováveis atrasos na sua implementação signifiquem que qualquer impacto só se fará sentir em 2026. O apoio à indústria automóvel pode ser uma prioridade para a nova administração alemã, mas, de um modo geral, as empresas não devem esperar grandes mudanças nos próximos doze meses. Com base neste cenário, é pouco provável que a nova administração alemã seja capaz de levar a cabo reformas estruturais rápidas ou de impulsionar o crescimento a curto prazo. Qualquer expetativa de uma mudança rápida na evolução da Alemanha é provavelmente exagerada.

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