À crise económica e política alemã, juntou–se agora a crise económica e política da França. O eixo franco-alemão que tem comandado os destinos da União Europeia (UE) e da Zona Euro nas últimas décadas parece estar em risco de quebrar. De acordo com os dados mais recentes da Comissão Europeia, a Alemanha está em plena recessão, após dois anos de crescimento negativo e uma perspetiva de crescimento medíocre para 2025 e 2026. Salva-se a continuação do bom desempenho da balança corrente, com saldos positivos superiores a 7% do PIB em 2024 que se projetam igualmente, embora com ligeiras quebras, para 2025 e 2026. Mantém-se a contenção orçamental com saldos à volta dos 2% do PIB e rácio de dívida, com projeção de ligeira aceleração, passando de 63% em 2024, para 63,8% em 2025 e ligeira desaceleração em 2026, para 62,8%. Já a França, mantém-se pouco acima da linha de água, com crescimentos medíocres em 2024 e 2025 de 1,1% e 0,8%, respetivamente, projetando-se uma aceleração para 1,4% em 2026. Ao contrário da Alemanha, confronta-se com saldos negativos da balança corrente, entre 0,5% e 0,3% do PIB, neste mesmo período, revelando dificuldades sérias de competitividade. E o mais grave são os elevados défices orçamentais, superiores a 6% do PIB que se projetam no período, com fortes probabilidades de virem a aumentar se a crise económica se aprofundar, com impactos na evolução do rácio da dívida que ameaça atingir os 117% em 2026. A crise política que se manifesta nos dois países não deixa de ser uma expressão da incapacidade de dar resposta aos problemas que se vêm manifestando na esfera económica. No fundo, o que se está a passar vem dar razão a tudo o que é dito no Relatório Draghi sobre o estado da competitividade europeia, onde o gap tecnológico, face aos EUA e à China, a ausência de uma política conjunta face aos
desafios globais, bem como as debilidades e dependências que se evidenciaram de forma explosiva nos últimos anos, revelaram uma fragilidade estrutural que não se previa poder vir a acontecer quando se iniciou a 3ª etapa da União Económica e Monetária, há duas décadas e meia.
A UE não pode continuar a procrastinar, como é enfatizado no Relatório, sob pena de ver agravada a sua perda de peso económico e de influência na economia global. Isto para não falar no agravamento das tensões sociais internas que já se anuncia. A formulação das políticas europeias para os próximos anos não poderá deixar de ter em consideração a necessidade de redesenhar a arquitetura institucional e de governance, de forma a permitir passar a um patamar superior na integração macroeconómica, incluindo o reforço das políticas económicas conjuntas.