Penso que não é surpreendente para ninguém o efeito nacional e internacional que teve o anúncio da morte do líder da oposição a Vladimir Putin, Alexei Navalny. Estou certo de que ele ficará na história como o grande herói russo que combateu uma das personagens mais violentas e controversas do século XXI.

Navalny ganhou notoriedade internacional fruto da enorme coragem em politicamente confrontar Putin durante mais de uma década. Atualmente, estava preso desde janeiro de 2021, após ter recuperado na Alemanha de um envenenamento que obviamente teve origem no Kremlin. Depois disso, foi detido e cumpria agora três penas de prisão que tinham como objetivo impedir que Navalny pudesse fazer oposição ao regime de Vladimir Putin.

A União Europeia e os EUA rapidamente reagiram responsabilizando Moscovo por esta “morte trágica” e enalteceram a reconhecida coragem de Navalny que mesmo após a tentativa falhada de envenenamento, o opositor politico de Putin escolheu voltar à perigosa Rússia para combater a ditadura do regime de Moscovo e defender uma democracia na Rússia.

O efeito interno da morte de Navalny só não é maior, porque Putin proibiu o Facebook e Instagram na Rússia. Estamos perante um regime autoritário onde a liberdade de expressão é diariamente perseguida e condicionada pelo Estado.

Após o início da guerra na Ucrânia, Putin fez aprovar a nova lei da “desinformação” em que passou a ser crime chamar guerra à invasão e manifestar-se contra a presente invasão do país vizinho.

É importante recordar que, em 2013, na eleição para a Câmara de Moscovo, Navalny conquistou quase 30% dos votos. E não deixa de ser curioso que a morte de Navalny aconteça um mês antes das eleições presidenciais na Rússia, o que permitirá uma tranquila campanha eleitoral para Putin e mais seis anos de poder absoluto. É caso para afirmar que a oposição ficou órfã.

No meio disto tudo, é lamentável que as dúvidas ainda persistam sobre as causas da morte de Navalny, a par da condenável situação sobre a indefinição do momento em que as autoridades vão entregar o corpo à família.

Há evidências de que Putin está a jogar o tudo por tudo. A semana passada deu uma entrevista onde afirmou que “a guerra na Ucrânia é uma questão sensível e importante”. Mas não ficou por aqui, chegou mesmo a afirmar que “a Ucrânia é uma questão de vida ou de morte para a Rússia”. Podemos pensar que estas declarações denotam desespero ou que são uma tentativa de mobilização do povo russo no contexto da propaganda do regime.

Também o Vaticano expressou a sua dor pela morte de Navalny. E queria terminar este artigo de opinião destacando que, na semana passada, o próprio Santo Padre Francisco, após a oração do Angelus, fez um apelo ao fim das guerras no mundo: “Em todos os locais onde há combates, as populações estão exaustas, cansadas da guerra, que é sempre inútil, inconclusiva e só traz morte e destruição, e nunca a solução para o problema.”