“Há mar e mar, há ir e voltar”. A frase faz hoje parte do léxico dos portugueses e tornou-se quase que um provérbio, mas foi criada, na década de 80, por Alexandre O’Neill num slogan para defender a segurança nas praias. Certo é que estamos ainda longe dos tempos áureos em que o verão faz do nosso Algarve a paragem quase obrigatória para quem procura o tão merecido descanso, mas é agora o tempo de nos prepararmos. Preparar as oportunidades que o turismo ainda tem para nos oferecer e, acima de tudo, preparar o fim cíclico da época alta.
A pandemia, de forma abrupta, veio colocar à vista de todos as fragilidades de uma economia assente, quase em exclusivo, no turismo. Com as fronteiras fechadas e a circulação praticamente interdita fecharam-se hotéis, os restaurantes ficaram de mesas vazias e as lojas com ofertas a mais para a procura inexistente. O Algarve merce mais, merece melhor. O Algarve tem condições que outras regiões não conseguem oferecer.
O clima é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes ativos da região, mas deve ser aproveitado na sua plenitude, na totalidade do ano e não apenas nos meses de verão. O tempo ameno, que faz parte de qualquer postal algarvio, pode ser uma mais-valia para diversificar a nossa base económica.
Esta mudança de paradigma económico da região passa, também, pela aposta no setor das tecnologias de informação como alavanca para uma mudança estrutural e, ao mesmo tempo, sustentável. E, neste domínio, é prioritário acelerar a construção do cluster TIC no Algarve, partindo do Algarve Tech Hub, aproveitando o facto de Portugal ter sido considerado o melhor país do mundo para viver, destacando-se pela melhor qualidade de vida.
Se soubermos mostrar ao mundo o que temos para oferecer, e se soubermos oferecer as condições ideais aos nómadas digitais, vamos ser capazes de aqui fixar cada vez mais pessoas e durante mais tempo. Mas, como poderemos mudar se temos um Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL) que já devia ter sido revisto há cerca de sete anos e vários Planos Diretores Municipais (PDM) com 26 anos? Já diz o ditado, é como estarmos “a tapar o sol com a peneira”.
O setor agrícola é outro desafio que tem de ser agarrado. Produtos como a laranja, os limões, a alfarroba, os figos e as amêndoas estão intrinsecamente ligados ao Algarve e se otimizarmos a produção tradicional conseguiremos aumentar a criação de riqueza e, com esse impulso, criaremos mais postos de trabalho, mais duradouros e menos dependentes das condicionantes externas. Mas deixo outra pergunta. Como é possível esta aposta se não há sequer uma estratégia que incorpore um plano de investimentos para a resolução dos problemas hídricos da região?
No Algarve o Mar está aqui ao lado e tal como a sua imensidão, também as oportunidades que ele nos oferece são muitas e diversificadas. A criação de um cluster ligado à economia azul pode ser uma ferramenta crucial no desenvolvimento regional. Ultrapassados alguns constrangimentos jurídico-legais que ainda existem, poderemos apostar em atividades que privilegiem a pesca, a aquicultura, a biotecnologia marinha e, ainda, as energias renováveis marinhas, capazes de aumentar a independência energética de Portugal face ao exterior.
Diversificar a economia do Algarve não significa, contudo, colocar o turismo de lado. Ele existe e faz parte da nossa tradição, mas não deve ser visto como o único motor económico de relevo, nem com os mesmos olhos do passado. Devemos aproveitar para apostar em novos produtos, novas ofertas que ajudem a esbater a sazonalidade.
Somos a região com maior variedade avifaunística de Portugal, com mais de 250 espécies diferentes, e, com a visão certa, podemos dinamizar a observação de aves, cada vez mais procurada sobretudo por turistas estrangeiros. E temos mais para ser explorado. Há rotas gastronómicas únicas, turismo sustentável e turismo cultural capaz de atrair quem se interessa pela História e pelas estórias que aqui se contam.
2022 começou agora e com ele vem um horizonte de oportunidades que devemos aproveitar e devemos fazê-lo de olhos postos no futuro. Um futuro feito de mar, mas também de terra, de verão, mas também de primavera, de outono e de inverno. Só assim, poderemos fazer do Algarve uma região mais forte em todas as estações e mais atrativa para toda a gente.