Não é fácil fazer previsões ou sequer comentários ao cenário macroeconómico do último trimestre sem repetir, em larga medida, o que já tem sido.

Alguns dados novos, contudo, podem ajudar na tarefa.

Em julho tudo indicava que iríamos fechar o segundo trimestre com um crescimento do PIB de 4,9%. Em setembro confirmou-se que o segundo trimestre trazia efetivamente crescimento, mas que este teria ficado pelos 4,5%. 0,4 pontos é bastante num cenário em que se precisa de recuperação rápida. Este facto pode dificultar que se atinjam as ambiciosas metas propostas para o final de 2021 e até para 2022.

O Banco de Portugal prevê, neste momento, um crescimento de 4,8% para 2021 (que compara com 5% para a zona euro (ZE)), e 5,6% para 2022 (4,6% para a ZE). No caso de Portugal estas previsões são sobretudo suportadas por um crescimento do consumo privado, do consumo público e mesmo das exportações, acima da média europeia. As notícias menos boas são que o crescimento do investimento em Portugal fica quase dois pontos percentuais abaixo do da ZE, e que a recuperação portuguesa, mais lenta que a média dos seus congéneres, vem depois de uma quebra bem mais acentuada, em 2020 (-8,4% para Portugal vs. -6,5 para a ZE).

A taxa de desemprego parece manter-se contida, com 6,8% este ano e 7,1% no próximo.

Em suma, uma recuperação lenta, abaixo da média da ZE, com um desemprego controlado e uma inflação ainda bastante aquém dos desejáveis 2%. Preocupante, é que esta frase podia ter sido dita quase em qualquer dia do nosso passado mais ou menos recente.

Para nos aproximarmos da Europa rica tínhamos que dar um salto de gigante. Tínhamos que, de uma vez por todas, ter uma mudança estrutural positiva que nos permitisse alavancar a recuperação de tal forma que deixássemos de, ano após ano, continuar a divergir.

E aqui é que vem a parte difícil: como é que se consegue este salto? Como se dá o passo de gigante com uma economia que é frágil, muito dependente dos serviços, com um tecido empresarial de PME em geral descapitalizadas, com salários muito baixos e uma classe “média” muito mais pobre que a média europeia?

Esta é a pergunta de um milhão de dólares, para a qual, não tenho resposta. Mas tenho uma certeza, temos de fazer algo diferente. Fazer o mesmo e esperar resultados diferentes, não resulta. Tem de se pensar numa estratégia global e inovadora, com políticas ousadas e corajosas.

Mais difícil ainda, é que esta estratégia deve ser conciliada com um suporte profundo às famílias e empresas martirizadas nos últimos dois anos. E claro, para conseguir tudo isto é necessário financiamento. Daí, a enorme importância do PRR.

O meu receio, contudo, é que se usem os velhos hábitos naquilo que poderia constituir uma grande oportunidade: uma máquina burocrática pesada e ineficiente, com tempos de resposta totalmente desligados da economia real; o apoio a projetos cujo fito não seja escalar a dimensão das nossas empresas e do nosso investimento; a falta de ousadia na requalificação do nosso capital humano… Se assim for, não haverá qualquer salto de gigante.

O conservadorismo e a resistência à mudança podem significar a continuação de um caminho de divergência. Precisamos definitivamente que o discurso passe a começar por: “E agora, para algo substancialmente diferente…”.