A vitória de Emanuel Macron nas eleições presidenciais francesas foi, no essencial, recebida por duas posições: euforia e (grande) desconfiança.

Para os eufóricos, as bandeiras europeias nos comícios de Macron e a sua chegada ao palco da vitória ao som do Hino à Alegria são sinais de grande alento para a União Europeia. Os últimos meses foram conturbados para as democracias liberais, com a chegada ao poder de Donald Trump e com o Brexit. O facto de termos sido confrontados com resultados que nunca julgámos possíveis levou muitos a temer uma chegada do neo-fascismo ao poder, mesmo no quadro de um sistema eleitoral desenhado para conter este tipo de ameaças. Os mais desconfiados, sob o tema “nem a fascista nem o capitalista”, representam Macron como um banqueiro ultra-liberal que pretende destruir o modelo social europeu. Muito provavelmente, a atitude mais adequada perante o novo presidente seria algures entre estas duas: a prudência.

Nos tempos que correm, com a grande velocidade mediática a ser ditada pelas redes sociais e por um bombardeamento informativo constante, perdeu-se a noção de perspectiva. Há apenas cinco anos, François Hollande era eleito presidente de França e também contava com grandes expectativas depositadas na sua chegada ao poder. Vivíamos o apogeu da crise do euro e o seu discurso social e de ruptura em relação ao alinhamento cego de França com a Alemanha levaram-no à presidência. Hollande propunha uma Europa mais social e um alívio das medidas de austeridade impostas pelo governo alemão, com a conivência de Bruxelas e de Paris, para superar a crise do euro. O exercício do poder constituiu, porém, um defraudar do próprio eleitorado, o que explica, parcialmente, o bom resultado de Jean-Luc Mélenchon e a baixa percentagem do candidato socialista Benoît Hamon.

Hollande compreendeu que França é um país que, apesar do seu peso histórico e político, padece de males semelhantes aos dos países mais afectados pela crise do euro e que isso retira ao país margem de manobra para impulsionar o que quer que seja no contexto europeu. Esta realidade não muda por milagre e Macron terá de saber lidar com ela. No entanto, a sua grande vantagem  poderá residir nas circunstâncias em que inicia o mandato. O pior da crise parece ter passado, como se pode verificar pelo controlo das contas públicas portuguesas e irlandesas; pelo forte crescimento económico espanhol (mesmo sem orçamento de Estado aprovado); ou pela pouco espalhafatosa renegociação grega. Um novo ambiente na Europa, sobretudo depois das eleições legislativas de Setembro, poderá abrir as portas a uma política alemã mais permissiva. Porém, não nos iludamos: tudo passa e continuará a passar por Berlim.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.