A escolha do nome foi tarefa árdua. Depois de anos a equacionar a possibilidade de recorrer à sigla PSL, um acrónimo decorrente do nome do criador – Pedro Santana Lopes –, a opção recaiu numa reminiscência do tempo do PPD/PSD: a Aliança Democrática.

Uma materialização do delfinato sá-carneirista. Condição de que Santana Lopes nunca abdicou.

Um partido que, por outro lado, não esconde a influência dos mandatos de Santana Lopes como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Na hora de fazer prova de vida, depois da tentativa frustrada de tomar conta do PSD, Santana fez questão de capitalizar o ativo decorrente do mais recente cargo ocupado.

Por isso, o Aliança se assume como um partido personalista. Uma clara alusão à doutrina social da Igreja cujo primeiro princípio estipula que cada homem é pessoa.

Numa fase em que ainda não é possível tecer comentários sobre a qualidade do metal de que é feita a Aliança, importa perceber se a nova proposta dispõe de espaço de afirmação. Um espaço que, a existir, terá de ser encontrado no centro-direita. Na verdade, um partido que se assume como personalista, liberalista e europeísta não pode sonhar com os votos do lado esquerdo, onde persiste uma visão monopolista do Estado.

Ora, no que concerne ao centro-direita, o espaço atualmente ocupado pelo CDS-PP, pelo PSD e por uma franja do PS, todas as dissidências – e foram numerosas – tiveram vida curta. Surgiram, sobretudo, quando as lideranças se mostraram fracas e incapazes de assegurar a unidade. Desapareceram quando se percebeu que as suas propostas pouco – ou nada – acrescentavam.

Eram perfeitamente compatíveis com o modelo vigente e deveriam ter sido apresentadas nesse âmbito. Não representavam alternativas. Eram fruto de maus relacionamentos e de ambições pessoais.

Um historial que não torna a vida fácil a Santana. É verdade que, do outro lado do espectro, uma amálgama de formações construiu o Bloco de Esquerda. Só que o sucesso do BE tem muito a ver com a aposta em temas fraturantes – uma espécie de representante de minorias – e com o mediatismo que lhe tem sido concedido pela comunicação social. Tempo de antena que ultrapassa largamente o peso eleitoral do partido populista autoritário. Assunto a exigir reflexão.

Voltando às hipóteses de afirmação do Aliança, é provável que Santana também procure apostar no mediatismo decorrente de uma presença quase constante nos mais de quarenta anos de vida política. Só que, como se viu no caso Berlusconi, os eleitores estão noutra onda. Privilegiam a novidade. Aceitam a inexperiência.

Por isso, os partidos recorrem às novas tecnologias. E a novos rostos. O sucesso do En Marche de Macron ou do Ciudadanos não representa o triunfo de propostas pragmaticamente estruturadas ou de novas ideologias. Mais do que saber o que querem, os eleitores mostram saber aquilo que não querem.

A afirmação do Aliança exige ir além de um partido fulanizado ou identificado pela figura do fundador. Restam duas dúvidas: o metal tem qualidade? O ego santanista aceita?