A crise económica provocada pela Covid-19 vai comprimir a distribuição de dividendos relativa ao exercício de 2020. Segundo a Allianz Global Investors (Allianz GI), uma gestora de ativos, estima-se que a remuneração aos acionistas das empresas europeias cotadas no índice MSCI Europe caia cerca de 20% por conta do exercício de 2020 face ao ano anterior, de 360 mil milhões de euros para 290 mil milhões de euros.
Em causa está não apenas o impacto do novo coronavírus na economia, que penalizou os resultados das empresas na Europa — e a nível global —, mas também a decisão de corte ou suspensão da distribuição de dividendos, seja por precaução, seja pelo acesso a medidas de apoio público que impediam a remuneração acionista. Recorde-se que o Governo português proibiu as empresas que, em 2020, recorreram ao lay-off simplificado ou ao apoio à retoma da atividade no âmbito do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) de distribuir dividendos enquanto beneficiassem destas medidas ou apoios.
Segundo o estudo da Allianz GI, por exemplo, desde o ano 2000 que o número de empresas europeias cotadas no Stoxx 600 que remuneraram os acionistas é tão baixo como em 2020. Um pouco mais de 70% destas empresas vão distribuir dividendos por conta do exercício de 2020, o que significa uma queda de cerca de 20 pontos percentuais face ao ano anterior — é a maior queda em vinte anos e duas vezes superior à verificada entre 2008 e 2009.
Ainda assim, Allianz GI antecipa que a distribuição em 2021 vai aumentar cerca de 15% face aos níveis de 2020, para 330 mil milhões de euros. A gestora de ativos frisa, no entanto, que a remuneração acionista não vai alcançar os níveis anteriores à crise de Covid-19 antes de 2022, “no mínimo”.
“Não esperamos que o nível pré-crise do coronavírus seja alcançado novamente antes de 2022, no mínimo. E há diferenças claras entre setores. Por exemplo, os sectores da saúde e de utilities puderam aumentar os seus pagamentos durante a crise e, em nossa opinião, devem continuar esse caminho no futuro. Já outros sectores estiveram, por outro lado, sob pressão em 2020. Por exemplo, as empresas de bens industriais e de consumo cíclicos, deverão ser capazes de aumentar os seus pagamentos de dividendos apenas na esteira de uma recuperação económica geral, devendo sectores como a energia e os serviços financeiros permanecer abaixo dos máximos anteriores”, disse Jörg de Vries-Hippen, CIO Equity Europe da Allianz Global Investors.
Certo é que a procura por rentabilidade junto da comunidade de investidores vai continuar, o que, dada o atual (e futuro) contexto de taxas de juro historicamente baixas, enfatiza o papel da distribuição de dividendo neste capítulo.
“Os investidores que procuram rendimentos vão provavelmente precisar de contar com dividendos”, afirmou Hans-Jörg Naumer, chefe de análise do Mercado de Capitais e autor do Estudo de Dividendos 2021 da Allianz GI.
O estudo revelou que o rendimento de dividendos na Europa caiu em 2020 cerca de um ponto percentual face ao ano anterior, para aproximadamente 2,75% por cento no segundo semestre do ano passado. Mas, apesar disso, encontra-se acima dos rendimentos nominais de muitos títulos do mercado obrigacionista, nomeadamente as bunds alemãs a dez anos, que apresentaram no ano passado.
Ainda de acordo com o estudo, em dezembro do ano passado, o dividend yield em Portugal — o rácio financeiro que indica o montante da remuneração aos acionista em relação ao preço da ação — atingiu os 3,5%, sendo o quinto mercado mais atrativo em 33 mercados analisados pela Global GI, apenas atrás da Rússia, Reino Unido, Noruega e Espanha.
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