Muitos votos de congratulação têm sido dados ao Vice-Almirante Gouveia e Melo, mas há aqui subjacente uma cultura de pouca exigência e descrédito das lideranças.
O que o Vice-Almirante fez foi “apenas” cumprir a sua tarefa, isto é, a missão que lhe tinha sido confiada.
O que é que ele fez? Definiu um plano estratégico, com metas, estruturando um plano detalhado de operação e comunicação. E executou-o! Como? Definiu um modelo de operações e logística e aplicou-o. Identificou claramente metas: “70% da população com pelo menos uma dose no início de agosto”, depois as metas dos 80% e 85% da população com as duas doses. Ao longo do seu projeto foi partilhando a informação do que estava a ocorrer, dos riscos e da necessidade. Uma comunicação simples, precisa e sem ruídos. Quando era para dizer algo, fazia-o de forma curta e sem rodeios.
O povo bate palmas! E é para bater, mas significa que o hábito de ouvir promessas não cumpridas, projetos que andam de margem para margem, inaugurações sem nada ainda construído, planos de financiamento sem dinheiro, entre outros artífices para sobrevivências políticas ou empresariais, que quando alguém diz que vai fazer e… espante-se, faz mesmo (!), o povo diz “Incrível” ou “Extraordinário”.
Em termos práticos, o nivelar por baixo está tão enraizado na cultura portuguesa que, quando um português, em Portugal, com os parcos recursos portugueses e sem estar preocupado no dia em que toma posse da missão em fazer queixas, de onde destaco, a de que não tem condições para realizar o seu trabalho, se acha normal.
Portanto, fazer o seu trabalho, como o Vice-Almirante o fez, é um feito extraordinário! Acrescento que, a dado momento, o plano do Vice-Almirante ultrapassou as metas definidas, ao qual o povo responde “não é possível” e “é Português”!
O Almirante fez e o povo ficou admirado.
A cultura do nivelar por cima, da responsabilização, da definição e implementação efetiva de estratégias ou de, simplesmente, fazer algo, está nas ruas da amargura.
Conforme digo várias vezes nas minhas aulas, a base da gestão assenta em duas variáveis fundamentais: eficácia e eficiência. O habitual é que quando os projetos começam, as discussões filosóficas sobre a versão 15.0 do projeto, quando a versão 1.0 ainda não teve uma linha de definição, elimina qualquer sucesso. Ou quando iniciamos um projeto e a primeira preocupação é pensar qual a justificação a arranjar, caso o projeto não termine na data ou com os custos definidos, é sinónimo de desleixo e desresponsabilização.
A primeira preocupação deve ser sempre a eficácia, pois é aquela que independentemente dos muros que um projeto tem pela frente, a entrega tem de acontecer sempre no dia em que nos comprometemos que assim seria. O Vice-Almirante disse “agosto 70%”, e mesmo com problemas de fornecimento de vacinas, dissonância de medidas políticas e de saúde pública, ele foi saltando muros e cumpriu: foi eficaz.
A segunda preocupação é sermos eficientes. É entender os processos de negócio, sejam eles na logística, nas operações ou na comunicação, para que mantendo os níveis de qualidade, de custo e de tempo, possamos baixar o esforço associado.
Uma vez mais, obrigado Vice-Almirante por trabalhar no nível que deveria ser considerado normal!