Há precisamente três anos, 11 de maio de 2020, publiquei nesta coluna um artigo intitulado Alternativa Social Liberal em que sugeri a criação de uma aliança de direita como fora a AD, que se apresentasse como alternativa credível à então maioria das esquerdas e ao pacto do PS com as extremas-esquerdas. A minha voz não ultrapassou a barreira do som.

O problema de então é que havia não líderes. O presidente do PSD (Rui Rio) não era líder e transformou-o num partido zombie. O CDS estava ligado ao ventilador. A Iniciativa Liberal (IL) não tinha o peso específico que tinham os Reformadores que faziam parte da AD e que contava com pessoas tão respeitadas como Medeiros Ferreira, António Barreto e Francisco Sousa Tavares.

Embora a IL tenha nas últimas eleições conseguido um grupo parlamentar e eleito um líder que aparenta ter sentido de Estado, Rui Rocha, escrevi então, e repito hoje, que precisa de mais gente com voz respeitada como a de Carlos Guimarães Pinto.

Fiz notar então que naquele momento, há três anos, uma aliança entre partidos e forças de centro-direita tinha fraquíssimas possibilidades de se constituir. Mas também escrevi que era possível que os militantes do PSD mudassem de ideias e elegessem um líder a sério, que propusesse uma estratégia de crescimento clara, entendida e compartilhada pela maioria dos eleitores, pelos empresários e pelos empreendedores, pelos sindicatos democráticos e pelas organizações socioculturais.

O discurso de Luís Montenegro que ouvi há dias no Fórum para a Competitividade deu-me alento: revelou que tem uma estratégia económica, medidas concretas para arrancar Portugal e os portugueses do pântano 2.0, e uma política social.

Fiz há três anos, também, votos para que os que restavam do CDS elegessem um líder e adotassem claramente a democracia-cristã, mas pelo que vejo o líder eleito confunde democracia-cristã – uma ideologia que assenta nos valores e ética cristã – com CDS partido divulgador da catequese. Assim não vai lá.

E, finalmente, desejei que a IL conseguisse comunicar que é na afirmação, capacidade, maioridade e determinação de cada português que reside a política que melhor serve o interesse da maioria dos portugueses e do Estado português, apelo que perdura e, que evidentemente, se estende a todos os partidos que eventualmente façam parte da alternativa social-democrata liberal.

Nos últimos meses, iniciou-se uma recomposição do espectro político na qual é decisiva a opinião pública. O espetacular descalabro do partido no governo e a autofágica governação e consequente agravar da condição económica dos portugueses mais frágeis e erosão do rendimento da chamada classe média, mostraram à maioria dos portugueses, segundo as sondagens, que a solução para Portugal e para garantir a segurança económica das famílias não está no PS.

Os líderes do PSD e da IL almoçaram juntos e, tendo em consideração que em Portugal um almoço com fotografia tem enorme significado político-social, é de esperar que se esteja a caminho de seguir a boa prática dos tempos da AD – agora que até o Presidente da República se afirma em discurso à nação pertencer à família da direita. Parece haver sido iniciado o caminho urgente para a reconstituição política e social do centro-direita que produza um resultado eleitoral que garanta a primazia de políticas que arranquem os portugueses para o nível de vida na mediana da União Europeia. É preciso que essa ideia seja firmada no espaço público de modo claro e convincente.

Vale a pena recordar onde estamos. Em 1979, a democracia portuguesa era vibrante. Entre 1976 e 1980 houve quatro governos e primeiros-ministros – Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo.

Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral, Gonçalo Ribeiro Telles, António Barreto, José Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares, respetivamente do PPD/PSD, CDS, PPM e Reformadores formaram uma coligação de centro-direita designada por Aliança Democrática (AD). A AD concorreu às eleições legislativas intercalares de 1979 e às eleições legislativas gerais de 1980, obtendo 45,26% dos votos (128 deputados em 250) e 47,59% (134 deputados em 250).

A aliança foi convidada a formar governo liderado por Francisco Sá Carneiro, até à sua morte em dezembro de 1980. Francisco Pinto Balsemão substituiu Sá Carneiro à frente do PSD e do governo até 1982. Foi o ano da revisão constitucional que iniciou a afirmação de Portugal como democracia europeia e liberal. O PS era oposição e ganhou as eleições seguintes em 1983. Foi derrotado dois anos depois pelo PSD de Aníbal Cavaco Silva que chefiou governos até 1995. As eleições desse ano foram ganhas pelo PS de António Guterres que abandona o governo em 2002.

São anos fatais para Portugal, de declínio progressivo a todos os níveis. Guterres retira-se invocando o “pântano” e o PS perde para o PSD de José Manuel Durão Barroso, que mais tarde clama que o país “está de tanga”, e também se retira, sucedendo-lhe Pedro Santana Lopes.

De 2005 a 2011 foi o desmando e o desgoverno do PS de José Sócrates. O país foi salvo da catástrofe financeira pelo PSD de Pedro Passos Coelho, que ganhou as eleições seguintes e governou até 2015 com o apoio do CDS de Paulo Portas e do esforço dos portugueses.

Depois, entrámos na era dos governos minoritários do PS de António Costa, apoiados por comunistas e bloquistas, que perdurou até há pouco mais de um ano. Beneficiou das medidas de correção financeira levadas a cabo pelo governo do PSD e pelo sacrifício dos portugueses, impostas de maneira duríssima pelos credores internacionais, e da subsequente conjuntura internacional favorável que os empresários e os empreendedores portugueses, com coragem e esforço, souberam aproveitar. Mas, em termos gerais, o nosso nível de vida estava igual ao que era 20 anos antes. Passaram mais três e a coisa só piorou.

Escrevi que há três anos seria fácil fazer oposição, apesar do goodwill com que o coronavírus bafejou o Governo de António Costa. Alertei para que se o PS não prevenisse o nepotismo e a corrupção cairia no desmando do PS de Sócrates. Palavras premonitórias.

O PCP mantinha-se fiel ao partido de Cunhal, de Vasco Gonçalves e de Estaline. O Bloco de Esquerda nunca fora devidamente classificado como partido também comunista, mas com táticas trotskistas mais insidiosas. Agora é mais claro o que são, apesar da cortina de fumo propiciada pela sua oposição ao ditador Putin (“justifica-se”: Putin é o sucessor de Estaline, o mandante do assassinato do seu rival Trotsky).