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Altice é a empresa portuguesa que mais investe em I&D

Os privados asseguram mais de metade da despesa do país com investigação e desenvolvimento. Em 2008, o movimento foi liderado pelo grupo de telecomunicações com 86 milhões de euros.
25 Agosto 2019, 18h43

O investimento em ciência tem crescido ininterruptamente desde 2015, após cinco anos de quebra, e o setor privado assume-se como o motor desse crescimento.
De acordo com o Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (PCTN), divulgado em junho pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, a despesa das empresas portuguesas em investigação e desenvolvimento (I&D) atingiu 1.398 milhões de euros, mais 94 milhões do que no ano anterior.

Na senda da Portugal Telecom, a empresa que adquiriu e a que procura dar continuidade, a Altice Portugal, tem vindo a destacar-se pela aposta na inovação, surgindo pelo terceiro ano consecutivo à cabeça das empresas que mais investem em I&D. No ano passado, o investimento do grupo de telecomunicações totalizou 86 milhões de euros, mais 16 milhões do que no ano anterior e bastante acima do mínimo histórico de 53 milhões de há três anos.

Além de ser a empresa que mais dinheiro destina a atividades de I&D, a Altice Portugal distingue-se também pelo elevado número de pessoas dedicadas em exclusivo à I&D e inovação: 689, das quais 624 diplomadas do ensino superior.

A Bial figura em segundo lugar da lista provisória das empresas/grupos com mais despesa intramuros em atividades de I&D em 2018, que é construída com dados reportados pelas empresas ao IPCTN até 26 de junho de 2019. Com 54 milhões de euros, a farmacêutica da família Portela está a mais do dobro do montante do grupo Super Bock (24 milhões), que é terceiro. A Bial destaca-se ainda por ter 124 trabalhadores altamente qualificados dos quais 45 doutorados, liderando neste último indicador o grupo das 100 empresas consideradas.

No setor financeiro, o protagonismo pertence ao Banco Comercial Português, com uma fatura de 21 milhões de euros alocados a atividades de I&D. Na área editorial destaca-se a Porto Editora, com uma despesa de 11,6 milhões e 164 pessoas afetas ao setor, das quais 138 com o ensino superior.

Na lista das 100 empresas com mais despesa intramuros em atividades de I&D em 2018 figuram nomes conhecidos como Nokia Solutions, grupos Efacec e Bosch, CGD, Galp Energia, EDP e Jerónimo Martins e tecnológicas jovens e inovadoras como o grupo Primavera, Vision-Box, Edisoft e PHC. A agroalimentar Frulact também lá está, bem como o Instituto de Novas Tecnologias – INESC Inovação e o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal – CITEVE.

 

O bolo da despesa
A Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência contabiliza em 2.753 milhões de euros a despesa global em I&D em Portugal, no ano passado, o que traduz um acréscimo de 168 milhões face a 2017. A maior fatia dessa despesa (51%) foi assegurada por empresas, ficando 42% a cargo do ensino superior. Já os setores Estado e instituições privadas sem fins lucrativos garantiram o restante, isto é 6% e 2%, respetivamente. Todos estes quatro pilares da sociedade aumentaram a sua despesa em I&D, garantindo em atividades desta natureza o equivalente a 1,37% do PIB. Ou seja, mais 0,4% do que no ano anterior.

Muitas das empresas que fazem da I&D a sua aposta também contribuem para estimular a inovação na esfera da academia, através de parcerias com universidades e politécnicos. É o caso da Altice e dos seus laboratórios colaborativos: a Altice Labs em Aveiro é um exemplo do investimento realizado pelo grupo de telecomunicações, que mais recentemente deu largas a um movimento de descentralização que põe no mapa o distrito de Viseu, a Ribeira Brava na Região Autónoma da Madeira e o Algarve.

 

Emprego científico
Em 2018, o número total de pessoas afetas a atividades de I&D em Portugal era de 46.538, se considerarmos apenas a categoria de investigador. Quando o critério são unidades de equivalente a tempo integral (ETI), o número sobe para 57.150.

Outro indicador com evolução positiva no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional de 2018 é o aumento do número de investigadores na população ativa, que passaram de 7,4 por mil, em 2015, para 8,9. Entre 2015 e 2018 registou-se um crescimento de 7.866 investigadores, o que corresponde a um aumento de 20%.

O ensino superior público continua a ser o setor que emprega mais investigadores: 28.628 unidades de equivalente a tempo integral, enquanto no setor privado trabalham 15.880. Destaque ainda para o crescimento de 3% do emprego científico nas empresas a nível nacional.

Os números são o melhor retrato da evolução da ciência na atual legislatura, mas não permitem embandeirar em arco. Logo nos primeiros anos, o primeiro-ministro António Costa chegou a colocar a fasquia nos 2,7% do PIB em 2020, mas o número tem vindo a ser revisto em baixa. No final do ano passado, o ministro da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, um cientista pragmático, colocou a fasquia em níveis bastante mais realistas: 1,7% do PIB em 2019. Há 20 anos, em 1999, a despesa atingiu 814 milhões de euros e em 1982 totalizava uns míseros 32 milhões.

Na ciência, como em muitos outros aspetos da nossa vida em sociedade, o facto de Portugal estar integrado na União Europeia é a mola que impulsiona o processo de convergência com a Europa do conhecimento. Ficar de fora não é opção.

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