Este ano dei-me conta que na ‘silly season’ – expressão britânica que designa o que noutros países é chamado “tempos do pepino” – não aconteceram coisas verdadeiramente ‘silly’ em Portugal, pelo menos quando comparadas com anos anteriores. O termo é antigo, pois foi criado num artigo da Saturday Review de 1861, mas foi mais recentemente que se descobriu o verdadeiro alcance da palavra ‘silly’. Ora, será que esta coisa da ‘silly season’ acabou e estamos nalguma espécie de arrefecimento global, ou é só no nosso país que tudo está mais calmo?

Fiquei rapidamente esclarecido. A 15 de agosto o NHS inglês estava a servir nos hospitais “sanduíches de paciente”. Acho que nem com muita fome ferraria o dente numa, até porque podia acontecer o que foi provado pelo Centers for Disease Control and Prevention americano, divulgado num estudo publicado no dia 14 deste mês: beijar galinhas propaga infeções por salmonela. Beijar galinhas?! E que tal a história de Sam Stephens, fanático do Toy Story, que mudou o nome oficialmente para Buzz Lightyear, para de seguida ver ser-lhe recusada a carta de condução por causa desse nome? É de perguntar qual dos dois departamentos estava mais louco.

Nos EUA, Bud Weisser, de 19 anos, foi detido por invadir a propriedade (na verdade, uma fábrica) da Budweiser. Adorava ter visto o julgamento! John Kelly e Steve Holt, de Leeds, apreciadores de cerveja, viram o rio transbordar e avançar para a sua mesa quando bebiam uma ‘pint’, e resolveram gritar às águas para pararem. Acabaram por ter muito mais liquidez do que pensavam e uma hipotermia. Os habitantes de Bodmin Moor estão a fazer uma petição para a devolução do sinal de boas vindas aos ‘minions’ que colocaram à entrada da terreola, abusivamente retirado pela Câmara Municipal. Patrick, um vombate (marsupial australiano) do Ballarat Wildlife Park está finalmente inscrito, aos trinta anos, num site de ‘dating’ – é bom que despache, pois à data de hoje é o mais velho vombate conhecido.

Sam Boulter, secretário do Honeybourne Railway Club, queixou-se de um esquilo que viu sair de um pacote de aperitivos quando abriu o clube de manhã e que se tinha servido das instalações: havia garrafas vazias espalhadas por todo o lado, notas pelo chão e as torneiras da cerveja abertas. Segundo Boulter, o esquilo ficou surpreendido e tinha um ar culpado, prova de que o bicho era o vilão da história. Kyle Iverson assaltou a loja onde trabalhava a sogra, a quem aproveitou para chamar “cadela”. A cadela ladrou para a polícia e Kyle teve direito a três anos à sombra.

Uma americana da Pensilvânia está revoltada por se chamar Beyonce e por, sempre que diz o seu nome, as pessoas começarem a cantar o “single lady”. Depois de se queixar no Facebook, teve a compreensão de uma alma gêmea que se chama Kate Perry. É por estas e outras parecidas que já nem parece estranho que quando foi perguntado a Jeremy Corbin se era da classe média, ele respondeu “Oh, não sei!”. Ou que quando foi organizada uma conferência em França, no final de Maio, sobre o conflito israelo-palestiniano, não foram convidados representantes nem dos israelitas, nem dos palestinianos.

Por cá, as coisas regressaram ao normal nestes últimos dias. A Dr.ª Catarina já começou.

 

Nota biográfica: Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, ativista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de “escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros.”