O pulmão do mundo está sob constante pressão e deve ser uma preocupação de todos nós, não só de quem está do outro lado do Atlântico. Arrisco dizer que esta é uma daquelas situações em que a teoria do efeito borboleta se aplica na perfeição.

Partilho, assim, alguns números na esperança que ajudem a sensibilizar e a entender este problema que, ocorrendo numa região do planeta, tem consequências globais.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, tem perto de sete milhões de quilómetros quadrados, atravessa oito países e uma possessão estrangeira, a Guiana Francesa, e ocupa 50% do continente sul-americano.

Representa mais de metade da floresta tropical existente no mundo, é o habitat de milhões de espécies – fauna e flora – e alberga mais de metade de todas as formas de vida do planeta. Além de ser vital para o equilíbrio ambiental, ao absorver toneladas de carbono da atmosfera, assume ainda outras funções ecológicas.

Não será por acaso que o Complexo de Conservação da Amazónia Central foi reconhecido como Património Mundial pela UNESCO. É também o lar de milhares de habitantes, como os povos indígenas e várias comunidades tradicionais. A título de exemplo, em 1500 era habitada por 6 a 9 milhões de pessoas.

Hoje, tudo isto está a ser ameaçado, e por todo o mundo surgem alertas em defesa deste património.

Ao longo das últimas décadas, a mão humana tem contribuído fortemente para a sua desflorestação, nomeadamente através do negócio da madeira, da pecuária, da agricultura, dos incêndios, da mineração e da exploração de petróleo e de gás.

Nos últimos 50 anos, a desflorestação da Amazónia atingiu cerca de 17% da sua vegetação, tendo aumentado 60% só em Junho deste ano face ao período homólogo.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nos últimos 12 meses a perda da vegetação atingiu os 5.879 quilómetros quadrados, valor bastante superior ao registado nos 12 meses anteriores, onde se tinham perdido cerca de 4.000 quilómetros quadrados.

Quase 3% da floresta tropical foi destruída por incêndios de combustão lenta, entre 1999 e 2010. Em 2013, 71 milhões de hectares estavam ocupados por pastagens e produziram-se 9,1 milhões de toneladas de carne. Em 2017, a agro-pecuária ocupava 103.000 hectares e a pecuária foi responsável por 65% do abate de árvores.

21% da região está “salpicada” de concessões mineiras que contaminam os aquíferos, e existem  mais de 100 blocos de produção de petróleo e gás. Existem 264 mil quilómetros de estradas alcatroadas ou de terra batida, só no território brasileiro da Amazónia, três quartos das quais ilegais.

Entre 2006 e 2013, o Brasil conseguiu abrandar em 70% a velocidade da desflorestação, mas dados mais recentes evidenciam que está novamente a aumentar.

Face a este cenário desastroso e mantendo o actual ritmo de degradação, a Amazónia não resistirá mais de duzentos anos, estimando-se o seu fim para 2260 caso não se faça nada para evitar tal catástrofe.

Muitas têm sido as críticas ao presidente do Brasil pela postura de desrespeito que assume relativamente às políticas ambientais e aos povos indígenas. A Amazónia não pode ser encarada como uma fonte de negócio, em que tudo é transaccionável, inclusive a sustentabilidade da região e do planeta.

O desenvolvimento deve ser compatível com a biodiversidade e os direitos humanos, impondo-se, por isso, uma resposta global para a preservação da Amazónia. Nenhum Estado se pode excluir da responsabilidade ambiental e social em defesa deste património ímpar, com um valor ecológico inestimável, aplicando-se justamente o princípio ecologista “pensar global, agir local”.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.